CARLOS DE FOUCAULD O IRMÃO UNIVERSAL – Dossier en portugués

CARLOS DE FOUCAULD
O IRração do Abandono (Charles de Foucauld)
Meu Pai, Eu me abandono a Ti, Faz de mim o que quiseres. O que fizeres de mim, Eu Te agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo. Desde que a Tua vontade se faça em mim E em tudo o que Tu criastes, Nada mais quero, meu Deus.
Nas Tuas mãos entrego a minha vida. Eu Te a dou, meu Deus, Com todo o amor do meu coração, Porque Te amo E é para mim uma necessidade de amor dar-me, Entregar-me nas Tuas mãos sem medida Com uma confiança infinita Porque Tu és… Meu Pai!
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Observação
No contexto da alegria do anúncio da Canonização do Irmão Universal Carlos de Foucauld, surge a pergunta: quem é Carlos de Foucauld? Eis aqui algumas respostas dos seus irmãos apresentadas nesta coleção de textos.
Este caderno, na realidade, é uma primeira informação a respeito de São Carlos de Foucauld, dirigida a um amigo interessado em conhecê-lo e informar-se sobre a sua espiritualidade. Este irmão da Comunidade Ecumênica Horeb: Carlos de Foucauld, CEHCF, apresenta diversos testemunhos sobre o irmão universal. A CEHCF, é uma rama da Família Carlos de Foucauld.
A CEHCF, dentro da Família Espiritual de Foucauld, procura viver e caminhar sobre os passos deste mártir, missionário, peregrino, contemplativo e seguidor radical de Jesus de Nazaré, testemunho vivente de uma espiritualidade própria para este tempo.
“O homem silencioso do Saara, homem de adoração e de oração, que se fez ‘irmão universal’, sempre acolhedor para com todos, propunha-se ‘gritar o Evangelho sobre os telhados com toda minha vida’. Esse foi o caminho aberto pelo ‘missionário solitário’, cujo exemplo inspirou e continua inspirando inúmeros pastores e fiéis.” (Bernard Ardura, postulador da causa de canonização do Bem-aventurado Carlos de Foucauld).
Esta seleção de textos diversos, de fácil acesso na Internet em português foi tirada, sobretudo do SITE do Instituto Humanístico Unisinos, Revista IHU ONLINE. (http://www.ilhu.unisinos.br), mas, também é um mostruário para a iniciação de um estudo aprofundado a partir dos muitos textos do irmão José Luis Vázquez Borau e de outros autores como o Padre Pablo D’Ors.
Sumário
1º- QUEM É CARLOS DE FOUCAULD? …………………………………………………………………….. 4
2º- NAZARÉ ……………………………………………………………………………………………………………… 5
3º- CHARLES DE FOUCAULD. O SENTIDO DE TUDO JÁ ESTAVA EM NAZARÉ …….. 7
4º- CHARLES DE FOUCAULD E O “MISTÉRIO DE NAZARÉ” ………………………………….. 8
5º- OS TRÊS PILARES DA ESPIRITUALIDADE DE CARLOS DE FOUCAULD ………… 11
6º- PADRES DO DESERTO ……………………………………………………………………………………… 12
7º- CHARLESDE FOUCAULD UM PADRE DO DESERTO ……………………………………….. 13
8º- O LEGADO DE CARLOS DE FOUCAULD SEGUNDO PABLO D’ORS ………………… 14
9º- CONCEITOS QUE DEFINEM O IRMÃO UNIVERSAL ………………………………………… 17
10º- O MARABUTO CHARLES DE FOUCAULD ……………………………………………………… 19
11º- CHARLES DE FOUCAULD, UM SER HUMANO EM BUSCA DE DEUS…………….. 21
12º- CHARLES DE FOUCAULD: EXERCÍCIOS EXTREMOS DO ESPÍRITO. …………….. 22
13º- CHARLES DE FOUCAULD: IRMÃO UNIVERSAL ……………………………………………. 25
14º- COMO UM GRÃO DE TRIGO. CARTA DE CHARLES DE FOUCAULD …………….. 26
15º- CHARLES DE FOUCAULD E A FASCINANTE CONVERSÃO PELO AMOR A JESUS E AOS POBRES ……………………………………………………………………………………………. 27
16º- A CANONIZAÇÃO …………………………………………………………………………………………… 34
17º- A FAMÍLIA ESPIRITUAL DE CARLOS DE FOUCAULD …………………………………… 39
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18º- VIVER A ESPIRITUALIDADE DO IRMÃO UNIVERSAL EM UMA FRATERNIDADE, HOJE ………………………………………………………………………………………….. 42
COMUNIDADE ECUMÊNICA HOREB: CARLOS DE FOUCAULD …………………………… 43
PEQUENA BIBLIOGRAFIA …………………………………………………………………………………….. 50
São Carlos de Foucauld
O Irmão Universal
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1º- QUEM É CARLOS DE FOUCAULD?
1- Em língua portuguesa, assim começa uma das biografias de Carlos de Foucauld:
Carlos Eugênio de Foucauld, filho de Isabel de Morlet e de Francisco Eduardo, visconde de Foucauld de Pontbriand, nasceu, em 15 de setembro de 1858, em Estrasburgo. Este é um livro de leitura obrigatória.
Carlos de Foucauld e a espiritualidade de Nazaré. José Luis Vázquez Borau. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
2- E esta, assim:
Carlos de Foucauld nasceu em Estrasburgo (França), em 1858. Órfão de pai e mãe quando ainda nem tinha seis anos completos, tornou-se uma criança vulnerável.
Ao longo de sua adolescência difícil perdeu a fé, talvez para afastar a angústia que carregava no peito mergulhou numa vida de prazer e desregramento.
Quando oficial do Exército francês, foi enviado à Argélia (naquele tempo colônia francesa), aos vinte e dois anos. Dois anos mais tarde, pediu baixa do exército e se aventurou numa expedição arriscada no Marrocos. O testemunho da fé muçulmana despertou nele uma questão: “Existe Deus?”
De volta à França, tocado pelo acolhimento afetuoso e discreto de seus familiares profundamente cristãos, começou uma busca e, providencialmente, encontrou um padre que viria a ser para ele um pai e um amigo: Padre Henri Huvelin (1886-1910).
Padre Huvelin era grande amigo da família. Era um homem de Deus, um homem “feito oração”. Confessava na igreja de Santo Agostinho e atendia em sua casa. Eras dotado de tão profundo discernimento que deslindava todos os casos, e de tão penetrante visão das disposições íntimas das pessoas que o consultavam que muitos atribuíam isso a uma graça especial de Deus. Seus conselhos eram claros, simples, de bom senso e acertados.
Em outubro de1886, aos vinte e oito anos, Carlos converteu-se.
Depois de esse momento, ele decidiu entregar toda a sua vida a Deus. Uma peregrinação à Terra Santa lhe revelou a face de Jesus de Nazaré, que o seduziu e, a partir daí, Carlos quis segui-lo e imitá-lo. Primeiramente, passou sete anos numa trapa (Os trapistas são monges beneditinos que vivem em comunidade).
Depois, outros quatro em Nazaré, como eremita, à sombra de um convento de Clarissa. As clarissas “quiseram-lhe dar a casa do jardineiro, mas ele optou por uma cabana de tábuas, situada no pátio, a uns cem metros de distância, que servia como quarto de despejo. Trouxeram-lhe dois tamboretes, duas mesas e um enxergão; desse modo, transformou-se no eremita de Nazaré, tantas vezes sonhado.
Numa carta de 1897 dizia:
“Alegro-me infinitamente por ser pobre, vestir-me como operário, ser serviçal, pertencer a essa condição humilde que foi a de Nosso Senhor Jesus Cristo, e por uma graça excepcional poder viver tudo isso em Nazaré”.
A Madre Isabel das clarissas de Nazaré, depois de ter visto por vários meses o seu modo de viver, e uma vez certa da grande inteligência e da singular virtude de que era dotado, começou a exortá-lo ao sacerdócio. De início, irmão Carlos recusou a ideia. Todas as irmãs do convento rezavam por essa intenção. Também, havia muito tempo o padre Huvelin era de opinião que Carlos de Foucauld tinha vocação para o sacerdócio e já lhe havia dado a entender. Finalmente, na cabana de Nazaré, para onde havia regressado novamente, tomou a decisão. Seu problema era como conciliar o sacerdócio e a vida eremita.
Depois da sua preparação para o sacerdócio em Paris e em Roma, o irmão Carlos é ordenado sacerdote em nove de junho de 1901 por Dom Montéty. Depois da ordenação, permanece no mosteiro de N. S. Das Neves até que se efetuem os trâmites para a sua ida à África do Norte. Alguns dias depois, cruza o mar e desembarca na África, onde é recebido por Dom Livinhac, bispo do Saara, que lhe dá permissão para se instalar ao sul da província de Oran, próximo a Marrocos. Vai a Beni Abbés, depois para Tamanrasset, tentando simplesmente tornar-se amigo e irmão dos nômades do deserto. Aprendeu a língua deles e se iniciou na cultura nômade.
Não procurou converter ninguém, mas apenas amar, e quis “gritar o Evangelho” com toda a sua vida.
Aos poucos, descobriu que seguir Jesus, amá-lo com ardor, era aproximar-se, como Ele fez, dos que estão afastados, dos mais abandonados.
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Em primeiro de dezembro de 1916, durante a primeira guerra mundial, morreu em Tamanrasset, na região das montanhas Hoggar, assassinado, por ter desejado ficar até o fim entre seus amigos.
“A imitação é a medida do amor (…): é o segredo da minha vida. Eu perdi meu coração por esse Jesus de Nazaré crucificado há 2000 anos e passo minha vida tentando imitá-lo, na medida que a minha fraqueza permite” (Carta a Gabriel Tourdes).
ANNIE de Jesus. Carlos de Foucauld: nos passos de Jesus de Nazaré. Vargem Grande. Cidade Nova, 2004.
Carlos de Focauld não converteu a ninguém, mas se converteu a si mesmo.
2º- NAZARÉ
Reflexão do teólogo Bruno Forte, arcebispo de Chieti-Vasto, na Itália.
O artigo foi publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 05-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
«Cest à vous, théologiens, de faire parler la charité": Foi com estas palavras que Magdeleine de Jésus me acolheu, a fundadora das Irmãzinhas de Jesus, quando já há muitos anos fiz algumas aulas de teologia com essas mulheres consagradas, humilde e corajosas, provenientes de todas as partes do mundo. "A sua tarefa, teólogos, é fazer falar a caridade": a verdade dessa afirmação é comprovada pelo belo livro de um jovem teólogo, sacerdote da Fraternidade Jesus Caritas, Cruz Oswaldo Curuchich Tuyuc, fruto de uma tese de doutorado apresentada na Universidade Lateranense, intitulada: Charles de Foucauld e René Voillaume. Esperienza e teologia delMistero di Nazaret(Ed. Cittadella). O propósito do livro é focalizar o valor teológico da vivência espiritual desses dois grandes testemunhos da fé cristã no século que há pouco findou: Charles de Foucauld (1858-1916), beatificado em 2005 por Bento XVI, e René Voillaume (1905-2003), que foi, em certo sentido, o apóstolo mais conhecido do primeiro, juntamente com a já citada Magdeleine de Jesus. O impacto de Foucauld sobre a espiritualidade do século XX foi vasto e profundo, como demonstram as muitas famílias religiosas que se inspiram nele: não é à toa que um teólogo da estatura de Yves Congar pôde afirmar que, sob o perfil da experiência espiritual, todo o século XX foi iluminado por dois faróis, cujas vidas se concluíram na sua abertura: Teresa do Menino Jesus, a santa da "pequena via" da caridade, capaz de transformar a mediocridade da existência em um extraordinário caminho de amor, e Charles de Foucauld, o jovem de boa família que, depois de uma temporada dissipada e dissoluta, influenciada pelo encontro com o Islã, conhecido no Marrocos por meio da fé humilde e adoradora de muitas pessoas simples, se apaixonou por Jesus e pelo Evangelho, e decidiu imitar seus passos com o compromisso total da vida. Nesse esforço apaixonado para seguir o Mestre, o frei Charles foi à Terra Santa, onde descobriu em particular o mistério de Nazaré como lugar e tempo precioso da "humanização de Deus". Os anos percorridos pelo Filho de Deus feito homem no pequeno vilarejo da Galileia se parecem, ao apaixonado buscador do Absoluto, não tanto com o prefácio da vida pública de Jesus, mas sim com a forma mais eloquente da Sua kénosis, a escolha do escondimento e da humilhação que o Verbo fez para ser um de nós, habitar no abismo da nossa pobreza e preenchê-lo com a riqueza do Seu amor salvífico. 6 A mensagem de Nazaré se coloca, assim, no centro da boa nova: a vida do Filho eterno na nossa carne não é a experiência de um Deus a passeio entre os homens – quase uma "paródia da humanidade" (Jacques Maritain, 1882-1873) –, mas sim a revelação de uma lógica divina, que subverte a das grandezas deste mundo. Deus toma o nosso lugar, fazendo Seu o que pode haver de mais pobre e insignificante entre os homens, para que todo abismo de miséria humana se sinta alcançado, resgatado e transfigurado pela Sua caridade. É essa a leitura original que o frei Charles faz da teoria da "substituição vicária", que, nos anos vividos no deserto do Saara como eremita e testemunha do amor de Jesus entre os irmãos muçulmanos, ele interpretará sempre mais como "badaliya", termo de origem árabe que significa justamente substituição e solidariedade. Ele lê sua própria vocação como seguimento apaixonado do Deus conosco por essa estrada: "De tal forma Jesus tomou o último lugar que ninguém lhe poderá tirar". Por isso, afirma sobre si mesmo: "Quero passar sobre a terra de maneira obscura como um viajante à noite". E ainda: "Viver na pobreza, na abjeção, no sofrimento, na solidão, no abandono para estar na vida com o meu Mestre, o meu Irmão, o meu Esposo, o meu Deus, que viveu assim toda a sua vida e me dá esse exemplo desde o nascimento". É a escolha dos últimos, dos mais abandonados, dos distantes. Por isso, deixará a Terra Santa e irá para o deserto do Saara, onde a pobreza é total, porque falta até a presença corroborante do Corpo eucarístico de Jesus: torná-lo presente, adorá-lo incessantemente em uma proximidade de amor simples e verdadeira aos irmãos do Islã, será agora a tarefa da sua vida, vivida fielmente até a morte cruel, que se ilumina com as cores do martírio. Mais tarde, René Voillaume assumirá essa mensagem e a dilatará a todas as situações de miséria e de abandono da terra, onde chamará os Irmãozinhos por ele fundados a viver como Foucauld o escondimento de Nazaré: Au Coeur des masse, a obra que Voillaume publica imediatamente após a guerra e que o tornará conhecido em todo o mundo, traduzido em italiano com o título significativo Come loro, fará com que muitos descubram a via de Jesus como expoliação, solidariedade e substituição vicária em favor dos últimos. Na escola de Foucauld e de Voillaume, o amor – ou, como Curuchich Tuyuc gosta de chamá-lo, "o princípio agápico", revelado na humilhação do Filho de Deus – dá um sentido novo à vida, um sentido até revolucionário, se confrontado com a lógica do sucesso que domina as ambições do mundo. "Nazaré não é mais só um lugar geográfico, mas sim um estilo de vida, e essa certeza traz consigo a convicção da necessidade, para a Igreja de hoje, derecomeçar de Nazaré`, ou seja, de um retorno ao essencial da fé».
Uma apologia ao silêncio e à escuta, alternativa à barbárie do barulho e das palavras gritadas, uma afirmação decisiva do primado do último lugar, contra a corrida de querer ser ou de fingir que se é o primeiro, um convite à verdade daquilo que somos diante do Eterno, ao invés de correr atrás das máscaras da aparência e do consenso obtido a todo custo: essa é a mensagem dessa pesquisa rigorosa e convincente.
Justamente isso, uma mensagem que vale a pena meditar nos nossos dias, para nos abrir a escolhas de vida contracorrente, as únicas capazes de dar liberdade e paz ao nosso coração inquieto, para além de qualquer medida de cansaço e de aparente inutilidade, alternativas a toda lógica de sucesso a qualquer preço, até a da opressão dos outros por uma vã e estéril afirmação de si mesmo: justamente isso, um desafio e uma promessa para todos.
Foucauld escreve no 20 de junho de 1916, seis meses antes da sua morte:
“Veio a Nazaré, o lugar da vida calada, da vida ordinária, da vida de família, de oração, de trabalho, de escuridão, das virtudes silenciosas praticadas sem qualquer testemunho fora de Deus; junto com seus seres queridos, seus vizinhos, uma vida simples, humilde, escura, que é a vida da maior parte dos seres humanos”. (VÁZQUEZ BORAU. O caminho espiritual de Carlos de Foucauld, pág 123: 208)
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3º- CHARLES DE FOUCAULD. O SENTIDO DE TUDO JÁ ESTAVA EM NAZARÉ
O relato é de Jonas Jorge da Silva (CJCIAS/CEPAT). E exposição do Padre Francisco
Gecivan. Por: Jonas | 17 Agosto 2015 Casa do Trabalhador – Rezar com os místicos.
Charles de Foucauld foi um homem inquieto, que mesmo na rebeldia de sua juventude ou quando ainda estava no serviço militar francês não deixou de procurar um sentido existencial para aquilo que fazia. Vivendo uma vida sinuosa, cheia de altos e baixos, um dia se depara com a verdade do Evangelho (30-10-1886). Para isso, foi fundamental o encontro com o padre francês Henri Huvelin (1830-1910), que foi o seu grande diretor espiritual, fazendo com que Foucauld passasse a enxergar a limpidez do Evangelho, que valoriza a experiência com Deus e a proximidade com as pessoas, ao invés do doutrinalismo, ritualismo e esteticismo de muitas práticas conservadoras.
“Imediatamente ao crer que havia um Deus, compreendi que não podia deixar de viver só para Ele. Minha vocação religiosa data do mesmo instante da minha fé”, confessaria posteriormente Foucauld, assumindo com radicalidade a boa notícia de Jesus Cristo. Apesar de passar pela Ordem Trapista, seu coração pediu mais. Fortemente marcado pela experiência que teve em Nazaré, fica fascinado com a vida humilde e pobre de Jesus, que durante trinta anos viveu como um simples artesão. Essa reflexão faz com que Charles de Foucauld transforme a experiência de Nazaré no núcleo de sua espiritualidade.
Homem de coração aberto, passou a ser reconhecido como o “irmão universal”. Considera que Deus é Deus de todos e está em tudo. “Deus no coração do mundo”, esta é a sua certeza. Por isso, nele é possível enxergar que o ecumenismo e o diálogo interreligioso é um caminho de riquíssimos frutos para toda a humanidade. Em seu contato com os tuaregues, no norte da África, aprendeu a admirar a hospitalidade tradicional dos muçulmanos e o modo de vida piedoso daqueles homens do deserto do Saara, que rezam três vezes ao dia, invocando o Deus misericordioso e clemente.
Nos dias atuais, certamente, a experiência de Nazaré tem muito a dizer para todos. Segundo o padre Francisco Gecivan, Charles de Foucauld não fez nada de extraordinário durante a sua vida, simplesmente foi fiel à mensagem do Evangelho. A vida de Jesus de Nazaré, simples e sóbria, vivendo em fraternidade com os demais, torna-se profética em tempos de capitalismo selvagem, consumo desenfreado e crises das mais diversas.
NAZARÉ, coletânea de reflexões feitas pelo “irmão universal”, a partir de sua experiência espiritual de Nazaré.
Tenho tanta sede de levar enfim a vida que entrevi, que adivinhei, ao caminhar pelas ruas de Nazaré, ruas que os pés de Nosso Senhor pisaram, e Ele, o pobre artesão perdido na abjeção e na obscuridade… (Carta à sra. de Bondy, 24-06-1886).
Há uma semana mandaram-me rezar diante do corpo de um empregado (do mosteiro), um nativo católico, falecido numa cabana próxima: que diferença entre esta casa e nosso convento. Eu suspiro por Nazaré (Carta à sra. de Bondy, 10/0/4/1894, Oeuvres Spirit. p. 702).
“Desceu com eles e veio a Nazaré” (Lucas 2,51). Durante toda sua vida ele só se abaixou: ao encarnar-se, ao fazer-se criancinha, ao obedecer, ao fazer-se pobre, abandonado, exilado, perseguido, supliciado, pondo-se sempre no último lugar. (Voyageur dans la nuit, p. 308).
Meus últimos retiros para o diaconato e para o sacerdócio mostraram-me que esta vida de Nazaré, que parecia ser minha vocação, era precisso levá-la não na Terra Santa tão amada, mas entre as almas mais doentes, as ovelhas mais abandonadas. Este banquete divino do qual sou ministro, era preciso apresentá-lo não aos irmãos, aos parentes, aos vizinhos ricos, mas aos coxos, aos cegos, às almas mais abandonadas, mais carentes de sacerdotes (Carta ao Pe. Caron, 08-04-1905).
Eu sou um velho pecador que, no dia imediato ao da sua conversão – há quase 20 anos – foi poderosamente atraído pelo Senhor para levar a mesma vida que Ele levou em Nazaré. Desde então, esforço-me por imitá-lo… bem miseravelmente, é certo. Passei muitos anos nessa querida e abençoada Nazaré, como criado e sacristão do convento das Clarissas. Só deixei este lugar bendito há cinco anos, para receber as santas ordens.
O divino banquete de que sou o ministro, era preciso oferecê-lo, não aos irmãos ou aos parentes ou aos vizinhos ricos, mas ao mais coxo, ao mais cego, às almas mais abandonadas, as privadas do sacerdote. Na minha mocidade, percorri a Argélia e Marrocos. Marrocos tão grande como a França, com dez milhões de habitantes, não tinha nem um único padre no interior. O Saara argelino,
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sete ou oito vezes maior que a França e mais habitado do que anteriormente se julgava, tinha doze missionários.
Nenhum povo me pareceu tão abandonado como este e assim pedi e obtive do Reverendíssimo Prefeito Apostólico do Saara, a licença para me fixar no Saara argelino, e de levar na solidão, na clausura e no silêncio, pelo trabalho das minhas mãos e no estado de pobreza, só ou com alguns padres ou irmãos leigos, uma vida tão semelhante quanto possível à vida oculta de Cristo em Nazaré.
Estabeleci-me há três anos e meio, em Beni-Abbès, mesmo na fronteira de Marrocos, procurando, embora miserável e tibiamente, levar a bendita vida de Nazaré. Até agora estou só… O grão de trigo que não morre, fica só… Peço ao Senhor para que eu morra para tudo o que não seja a sua vontade. Um pequeno vale é a minha clausura; só de lá saio quando um imperioso dever de caridade me obriga a isso… a falta de outro sacerdote (o mais próximo está a 400 quilômetros ao norte)… ou para levar Cristo a qualquer outro lugar (Carta ao Pe. Caron, 08-04-1905, Textos Espir. p. 213-215).
Escolheu Tamanrasset, lugarejo de vinte casas em plena montanha, no coração do Hoggar e entre os Dag-Rali, principal etnia [Tuareg], afastado de todos os centros importantes. Não parece estar prevista nenhuma guarnição militar, nem telégrafo, nem europeu, e por muito tempo não haverá missão. Escolho esse lugar abandonado e aqui me instalo, suplicando a Jesus que abençoe esta instalação na qual quero, para minha vida, tomar um único exemplo, sua vida de Nazaré (Carta ao Pe. Huvelin, 04-12-1909).
Quero que todos os habitantes, cristãos, muçulmanos, judeus… se acostumem a ver-me como irmão, como irmão universal… Eles estão começando a chamar minha casa de “fraternidade”, e isso me dá muita alegria (Carta à sra. de Bondy, 07-01-1902).
Ele assume a vocação de gritar o Evangelho em cima dos telhados, não com palavras, mas com a vida (Retiro em Nazaré, 1897).
Levem o Evangelho, pregando-o não com palavras, mas pelo exemplo. Não o anunciando, mas vivendo-o… (Retiro em Efrém, 1898, 2ª f. depois do 3º domingo da Quaresma).
Que os irmãos tenham o mesmo zelo pelas almas e as mesmas virtudes que os cristãos dos primeiros séculos e realizarão as mesmas obras. Espalharão, como eles, ocultos, dissimulados, o bem que não podem fazer abertamente. O amor mostrar-lhes-á os meios, e o Senhor sabe tornar eficazes os esforços que inspira. Recapitulemos:
“Não podemos medir os nossos trabalhos pela nossa fraqueza, mas os nossos esforços pela nossa obra”. Se as dificuldades são grandes, apressemo-nos ainda mais a dedicar-nos ao trabalho e multipliquemos mais ainda os nossos esforços (Projeto de Missão no Marrocos, Textos Espir. p. 275).
4º- CHARLES DE FOUCAULD E O “MISTÉRIO DE NAZARÉ”
Neste dia 1º de dezembro, completa-se o primeiro centenário da morte do beato Charles de Foucauld, figura fundamental da espiritualidade cristã recente, um homem que – disse o Papa Francisco –, “talvez como poucos, intuiu o alcance da espiritualidade que emana de Nazaré”; um homem cujo carisma – observou o teólogo Pierangelo Sequeri – “foi dado e destinado antecipadamente a este tempo da Igreja”.
A reportagem é de Cristina Ugocioni e publicada por Vatican Insider, 29-11-2016. A tradução é de André Langer.
O oficial, o explorador
Charles de Foucauld nasceu em Estrasburgo, França, no dia 15 de setembro de 1858. Durante a adolescência, sofreu a influência do ceticismo religioso e do positivismo científico que caracterizavam sua época; ele escreveu, referindo-se a essa época: “desde os 15 ou 16 anos, toda a fé tinha desaparecido dentro de mim”. Entrou na escola militar e virou oficial. Foi enviado com o seu regimento à Argélia. Em 1882, abandonou o exército e empreendeu uma viagem de exploração que o levou primeiro ao Marrocos e depois ao deserto argelino e tunisiano.
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“Meu Deus, faz que te conheça!”
Voltou ao seio familiar parisiense, em 1886, com a intenção de preparar um texto sobre suas descobertas: foi um tempo decisivo para a sua conversão. Escreveu:
“Comecei a ir à igreja, sem ser crente, passava longas horas repetindo uma estranha oração: ‘Meu Deus, se existes, faz que te conheça!’
Sua conversão, acompanhada pelo abade Henry Huvelin, aconteceu em outubro desse mesmo ano: “Assim que acreditei que havia um Deus, compreendi que não podia mais viver sem Ele”.
Jesus, o operário de Nazaré
Fez imediatamente uma longa peregrinação à Terra Santa, durante a qual escreveu:
“Desejo levar a vida que entrevi e percebi ao caminhar pelas ruas de Nazaré, onde Nosso Senhor, pobre artesão perdido na humildade e na obscuridade, pisou”. Dirigindo-se a Jesus, escreveu: “Quão fértil em exemplo e lições é esta vida de Nazaré! Obrigado! Que bom foste Ao nos ter dado esta instrução durante 30 anos”.
Ao retornar à sua pátria, entrou na Trapa de Nossa Senhora das Neves e depois foi enviado à Trapa de Akbés, na Síria. Mas se deu conta de que na Trapa não era possível “levar a vida de pobreza, de abjeção, de desapego efetivo, de humildade, diria inclusive de recolhimento de Nosso Senhor em Nazaré”. Um episódio significativo que viveu neste tempo: “Uma semana me mandaram rezar ao lado de um pobre operário do lugar, católico, que morreu em uma cabana do lado: que diferença entre esta cassa e o nosso convento! Eu suspiro por Nazaré”.
A mesma vida de Nosso Senhor
Ao dar-se conta de que “nenhuma congregação da Igreja dava a possibilidade de levar hoje e com Ele esta vida, que Ele levou desta maneira”, perguntava-se se “não era o momento de buscar algumas almas com as quais […] pudesse formar um início de pequena Congregação deste tipo: o objetivo seria levar com a maior fidelidade possível a mesma vida de Nosso Senhor, vivendo exclusivamente do trabalho das mãos, sem aceitar nenhuma doação espontânea nem oblação, e seguindo ao pé da letra todos os seus conselhos, sem possuir nada, privando-nos o máximo possível, em primeiro lugar, para nos conformarmos a Nosso Senhor e, depois, para dar-lhe o máximo possível na pessoa dos pobres. Acrescentar a este trabalho muitas orações”.
Nazaré é a vida de Jesus, não simplesmente seu prefácio
Surgiu algo conscientemente inédito na geografia religiosa, observou Sequeri no livro Charles de Foucauld. O Evangelho vem de Nazaré (Vita e Pensiero): “A novidade da intuição se dá, em primeiro lugar, pela clara referência cristológica da imitação/sequela de Nosso Senhor Jesus Cristo: ‘a mesma vida de Nosso Senhor’ Jesus, isto é, ‘a existência humilde e escondida de Deus, operário de Nazaré”. Com outras palavras:
“Nazaré não é o ‘prólogo’ da vida pública, o simples momento ‘preparatório’ da missão, nem a forma de uma ‘pre-evangelização’ que oferece um genérico compartilhar e um testemunho anônimo […] Nazaré é a vida de Jesus, não simplesmente seu prefácio. É a missão redentora em ato, não sua mera condição histórica. Nazaré é o trabalho, a proximidade doméstica do Filho que se alimenta durante longos anos daquilo que importa ao ‘abba-Deus’ (‘Vocês não sabiam que devo ocupar-me das coisas do meu Pai?’, Lc 2, 49). De onde poderia partir uma nova evangelização sem deter-se todo o tempo necessário no fundamento em que Deus a colocou para o próprio Filho?
A leitura dos Evangelho
Em 1897, o irmão Charles deixa a Trapa e muda-se para Nazaré, onde viveu durante três anos, junto ao mosteiro das clarissas. Seus dias eram marcados pelo trabalho, pela adoração silenciosa da Eucaristia e pela leitura dos Evangelhos. “Foucauld deseja viver imitando Jesus, ‘operário de Nazaré’:
“e para isso decide encomendar-se aos Evangelhos, que lê diariamente e sobre os quais medita por escrito”, conta Antonella Fraccaro, religiosa das Discípulas do Evangelho (Instituto Religioso que faz parte da Associação de Famílias Espirituais Charles de Foucauld) e autora do livro Charles
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de Foucauld e os Evangelhos. “Suas meditações – vários milhares de páginas – têm um corte intimista e auto-referencial; trazem à tona, sobretudo, o intenso e afetuoso vínculo que Foucauld vive com o Senhor. No centro das meditações não está o autor, mas a pessoa de Jesus e seu estilo, que deve ser assimilado dia a dia com Sua graça. Os motivos que inspiram a leitura dos Evangelhos expressam-se em um breve texto, muito significativo, escrito em um pequeno papel utilizado como marcador. O irmão Charles escreveu o seguinte, dirigindo-se a Jesus:
‘Leio: 1º) para dar-te uma prova de amor, para imitar-te, para obedecer-te;
2º) para aprender a amar-te melhor, para aprender a imitar-te melhor, para aprender a obedecer-te melhor;
3º para poder fazer com que os outros te amem, para poder fazer que os outros te imitem, para poder fazer que os outros de obedeçam’”.
Com o povo do deserto
Durante o tempo que passou em Nazaré, amadureceu em seu interior a vocação ao sacerdócio: foi ordenado em 1901 na França, e no ano seguinte estabeleceu-se em Beni Abbès, na parte argelina do Saara, “entre as ovelhas mais perdidas e abandonadas”. Nesses dias escreveu:
“Das 4h30 da manhã às 20h30 da noite, não deixo de falar, de ver pessoas: escravos, pobres, doentes, soldados, viajantes, curiosos […] Quero que todos os habitantes da terra se acostumem a me considerar um irmão, o irmão universal”.
Em 1905, decidiu dirigir-se ao sul, e viver entre os Tuareg, para Tamanrasset, onde não há “nem guarnições, nem telégrafo, nem europeus”.
A beleza doméstica do estabelecimento evangélico
A Nazaré que Charles queria não estava na Trapa, mas no deserto. Sequeri comenta a respeito:
“A questão não é tanto a dureza da ascese, mas a imitação ‘real’ de Nazaré: que precisa encontrar as condições do próprio rigor na normalidade do contexto em que as condições já estão dadas e não são artificialmente buscadas ou reconstruídas religiosamente. Nessas condições, efetivamente, o ‘pequeno irmão universal’ se estabelece como seu ‘bem amado irmão Jesus’, porque os homens e as mulheres já se estabeleceram: porque a vida cotidiana é o horizonte do seu olhar sobre o mundo”.
O rigor desta ‘inhabitação’ inclui “um princípio de simplificação e um critério de afinidade que liberam a singular beleza doméstica do estabelecimento evangélico”.
Irmão e familiar dos Tuareg
Charles foi prodigamente generoso com os seus Tuareg. “Quis vencer as desconfianças, conquistar sua confiança, entrar em fraternidade, tornar-se um familiar; quis fazer que conhecessem a bondade de Jesus”, disse Fraccaro.
“Seu tempo estava dividido entre a oração, as relações com os indígenas, que ajudava e apoiava de diversas maneiras, e os estudos da língua tuareg. Chegou, inclusive, a redigir um dicionário tuareg-francês. Nas cartas aos seus amigos distantes pedia-lhes que rezassem por estas almas abandonadas e também por ele: ‘Rezem para que eu faça o que quer de mim para eles, porque eu sou o único, infelizmente, que me ocupo deles por Sua parte e para Ele”.
A presença eucarística
Os gestos de atenção, a tenaz dedicação aos homens e às mulheres do deserto, convive com uma total relação/conversa com o Senhor presente na Eucaristia. Foucauld O levou para aqueles que não o conheciam, porque também eles são “Seus”.
É uma presença, uma bênção que todos percebem, todos sentem a oração e as palavras que a habitam, todos intuem o vínculo especial ao qual dá vida. A presença eucarística do Senhor condensa em si a palavra e os gestos cristãos menos “anônimos” que possam existir (Sequeri).
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5º- OS TRÊS PILARES DA ESPIRITUALIDADE DE CARLOS DE FOUCAULD
José Luis Vázquez Borau. El Camino espiritual de Carlos de Foucauld. San Pablo, 2008, pág117-137 – (Síntese)
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1º. Imitação de nosso Senhor Jesus Cristo.
Carlos de Foucauld, desde o momento de sua conversão, recebeu a graça de uma profunda amizade com Cristo, o que o fez ter nada além de um desejo: ser como Ele. É por isso que ele sempre quis viver como em Nazaré, trabalhando e sempre se colocando no último lugar, para que pudesse amar os irmãos como ele fez.
O amor da pessoa de Jesus o levou, desde sua evolução, a viver fora de todos os esquemas, preocupado apenas em estar cada vez mais a cada dia, e ao mesmo tempo, amigo de Deus e amigo dos pobres.
2º. Viver Nazaré.
Após um exame cuidadoso da vida e dos escritos de Carlos de Foucauld, conclui-se que o núcleo central de sua espiritualidade é o mistério de Nazaré. Isso é expresso em uma meditação, cinco meses antes de morrer: Sempre em último lugar: «Quando você for convidado para um banquete, coloque-se no último lugar» (Mateus 23,1-13; Lucas 14,10). Isto é o que ele fez quando veio ao banquete da vida e fez isso até sua morte.
Ele veio para Nazaré, o lugar da vida oculta, da vida comum, da vida familiar, da oração, da obra, da escuridão, das virtudes silenciosas, praticado sem mais testemunhas do que Deus, seus íntimos e seus vizinhos; o lugar daquela vida sagrada, humilde, benéfica e sombria que é a vida da maioria dos seres humanos, e da qual ele deu um exemplo por trinta anos. (Meditações sobre Lucas 2,50-51)
No coração de Jesus, que vive na família de Nazaré, há uma relação essencial, que ele tem com seu Pai: uma relação oculta, que ninguém suspeita, misteriosa e primordial;
Um Pai que não se impõe e que se esconde para abrir espaço para a liberdade de sua autoria. Quando Jesus diz: «Bem-aventurados os pobres», é ao seu pai em primeiro lugar a que se refere. E, ao mesmo tempo, neste Nazaré Jesus vive uma imensa caridade, uma relação de amor com todas as pessoas que são encontradas.
3º. Importância do deserto.
Deus falou no Sinai. Ele falou com Moisés cara a cara, como uma pessoa muitas vezes fala com seu amigo. Deus poderia ter falado em outro lugar, mas Ele escolheu o deserto (Êxodo 3; 33,11) Assim, na tradição judaica cristã, o lugar onde Deus fala é chamado de deserto Também Jesus vai para o deserto quando ele se retira para um lugar solitário para orar ao Pai, ou quando ele sobe até a montanha da Galiléia (Tabor). Mas não é sobre o deserto físico com sua areia e rochas.
O deserto existe onde quer que se reze e ouça a palavra de Deus nas profundezas de seu coração. Segue-se que cada um tem que encontrar seu «próprio deserto», seja no meio da cidade, na prisão, no hospital, ou nos sofrimentos comuns da vida comum.
A vida oculta de Nazaré já foi anunciada na experiência de Elias no Monte Horeb, quando ele, depois de passar a noite em uma caverna, ouve que o Senhor o chama para fora, pois passará (1 Reis 19:13).
Primeiro veio um vento de furacão que rachou as montanhas e quebrou as rochas, mas ao vento não havia Nenhum Senhor.
Então um terremoto veio e no terremoto não havia Nenhum Senhor. Então veio um incêndio, e no fogo não havia o Senhor.
Então houve um sussurro. Elias, ao ouvi-lo, cobriu o rosto com o manto. A brisa é a comunhão mais íntima que a pessoa contemplativa recebe à medida que passa da meditação discursiva para a atenção amorosa do sussurro de Deus.
Carlos de Foucauld e aqueles que mais tarde seguirão o caminho em seus passos, pretendem ouvir a «brisa leve de Deus» escondida no coração do mundo. Pois, como afirma o irmão René Voillaume, «o mistério de Nazaré manifesta, mais do que qualquer outro, a total integridade e a verdade da natureza humana de Jesus.
Este mistério pressupõe que Jesus apareceu entre os seus, um homem como os outros, sem se manifestar em nada, durante os anos de sua juventude, sua qualidade como Messias. «A vida de
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Nazaré é, em suma, o mistério de uma ausência de mistério na vida humana e social de Jesus: e isso é provavelmente o que é profundamente misterioso.» (Voillaume. Nas estradas do mundo. Marova, Madrid, 1973: 279).
É por isso que os místicos, aqueles que vão fundo no deserto interior quando encontram o mal arquetípico, superam-no com a ajuda de Deus. Alguns então entram no mundo da política, economia, direito, cultura ou outras áreas, e sua influência neles é crucial. Outros compartilham a vida dos pobres, daqueles que não têm privilégios, os mais desfavorecidos. Outros sentem que sua vocação é apenas orar e sofrer pela salvação do mundo. Mas o que quer que façam, são os verdadeiros assistentes sociais e mudam o mundo.
«É necessário passar pelo deserto e permanecer nele para receber a graça de Deus: é no deserto onde a pessoa se vazia e se desprende de tudo o que não é Deus, e onde a cazinha de nossa alma se dispõe completamente para deixar todo o lugar para Deus Sozinho.» (Vazquez Borau, 173).
6º- PADRES DO DESERTO
História
“Num mundo que ameaça caminhar para a desertificação, a resposta poderá vir, mais uma vez, de onde menos se espera: do silêncio que fala por si (e por nós), dos que sabem estar sós. Vale, por isso, a pena escutar de novo as palavras do silêncio, para aprendermos a ouvir mais e a falar melhor”, escreve o frei franciscano Isidro Lamelas em seu livro: “Padres do Deserto – Palavras do silêncio”.
No início do século IV, no Império Romano, o cristianismo passou de religião ilícita e perseguida para a condição de tolerada e, depois, de protegida e beneficiada. Para resistir à onda secularizante que invadira a Igreja imperial, os Padres do Deserto começaram por se retirar em locais desabitados e inóspitos, primeiro no Egito, depois, noutras partes, como a Palestina e a Síria.
“Mais do que teóricos da espiritualidade, estes “pais espirituais” constituem um patrimônio de humanidade e uma reserva inesgotável da melhor espiritualidade, precisamente porque se deixaram incendiar pelo fogo regenerador do amor misericordioso de Deus”, salienta o Frei Isidro Lamelas.
Os Padres do Deserto ensinam-nos a introduzir o silêncio dentro da palavra e a traduzir em poucas palavras esse enigma que nos habita e escapa. De muitos deles nem o nome ficou; são simplesmente nomeados como “Anciãos” ou “Pais”, porque nada quiseram ser nem ter, a não ser “filhos” e “irmãos” que partilham da mesma sede de Deus.
Como os próprios nos ensinam, não é o deserto que faz o monge. Conforme dizia o pai Longuino: “quem não é capaz de viver corretamente com os homens, não será capaz de viver corretamente na solidão” (Longuino,1).
De nada valem o silêncio, o jejum ou as múltiplas formas de ascese e anacorese, sem a caridade verdadeira para com todos, especialmente para com os mais fracos. Por isso, Orígenes de Alexandria (cerca de 185-254), considerado um dos pioneiros da espiritualidade e experiência monástica advertia que “devemos abandonar o mundo não tanto localmente, mas mentalmente”.
“Os Padres do Deserto são eremitas embriagados na radicalidade no amor do Eterno e Todo-Poderoso. Ébrias de Deus”, como lhes chamou São Macário, um deles, no século IV.
Se algo de novo encontramos nestes insaciáveis buscadores de Deus é a vigilante autenticidade e paixão com que abraçam o Evangelho de Jesus Cristo. De facto, o cristianismo é, para os Pais e Mães do deserto, um fogo novo aceso por Cristo que, como ensina Sinclética, “devemos acender em nós mesmos, com lágrimas e esforço”.
O deserto é uma zona de trânsito na qual só existe silêncio; um silêncio imprescindível para ouvi a nós mesmos, para ouvir aos nossos irmãos e ouvir Deus.
(José Luis Vázquez. Espiritualidade do Deserto. Paulus.)
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7º- CHARLESDE FOUCAULD UM PADRE DO DESERTO
O Monge é aquele que está separado de todos e unido a todos (São João Clímaco)
“Charles de Foucauld, o homem silencioso do Saara, homem de adoração e de oração, que se fez “irmão universal”, sempre acolhedor para com todos, se propunha a “gritar o Evangelho sobre os telhados com toda a minha vida”.
Esse foi o caminho aberto pelo “missionário isolado”, cujo exemplo inspirou e continua inspirando inúmeros pastores e fiéis”, afirma o padre francês Bernard Ardura, postulador da causa de canonização do Bem-aventurado Charles de Foucauld e presidente do Pontifício Comitê de Ciências Históricas.
Escreveu o eremita do deserto do Saara Charles de Foucauld: “Viver na pobreza, na abjeção, no sofrimento, na solidão, no abandono para estar na vida com o meu Mestre, o meu Irmão, o meu Esposo, o meu Deus, que viveu assim toda a sua vida e me dá esse exemplo desde o nascimento”.
“O monge é aquele que está separado de todos e unido a todos. É monge aquele que se considera um com todos, pois tem o hábito de se ver em todos” (Evágrio, Pequena Filocalia, 124-125).
O pai Isaías disse: “Ama calar mais que falar, pois o silêncio entesoura ao passo que o falar desperdiça” (Guy IV, 18; SC 387, 194).
Viver abissalmente a espiritualidade na pós-modernidade, só na configuração da mística do deserto, no amor radical ao bom Deus!
(Frei Inácio José do Vale, da Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas).
Carlos de Foucauld é um padre do deserto contemporâneo. Sua vida e obra, que bebem da espiritualidade de figuras da estatura de Agostinho de Hipona (354-430), Bento (480-547), Francisco de Assis (1182-1226) e Inácio de Loyola (1491-1556), remontam aos padres do ermo que povoaram os desertos da Síria e do Egito durante os primeiros séculos do cristianismo. Para entender Foucauld em sua verdadeira dimensão, há que irmaná-lo com Dionísio, o Areopagita (450-535) e Efrém da Síria (306-373), com Isaías, o Anacoreta (370-491) ou Gregório de Nazianzeno (329-389).
Amar o Silêncio:
Na solidão tranquila, vazia, pacífica, a pessoa recebe do mesmo Deus uma grande dádiva, apenas por escutar e estar atenta em silêncio Nesta atitude de solidão, escuta e atenção tranquila, Deus atua diretamente sobre aquele que reza, comunicando com a alma, sem outros meios, Na solidão Deus e o ser amado descobrem-se numa grande intimidade.
(José Luis Vázquez. Os místicos das religiões: Paulus).
A fonte da qual beberam estes padres do deserto e que mais tarde concretizaria o movimento hesicasta (hesicasmo provém do grego hesychìa que significa: calma, paz, tranquilidade, ausência de preocupação.
O Hesicasmo pode ser definido como um sistema espiritual de orientação essencialmente contemplativa que busca a perfeição (deificação) do homem na união com Deus através da oração incessante do coração. Num documento do mosteiro de Iviron do Monte Athos, lê-se esta definição:
«O hesicasta é aquele que só fala com Deus somente e reza sem cessar.»(1 Tes.5,17: Orem sempre). Foi a mesma da qual o irmão Charles também bebeu, cuja missão –essa é minha tese – não foi a de fundar algo radicalmente novo, mas a de inaugurar para o Ocidente um caminho contemplativo que havia ficado no Oriente cristão, em particular na república monástica do monte Athos. (Monte Atos é habitado por cerca de 1500 monges ortodoxos distribuídos em vinte mosteiros principais).
No meu modo de ver, Foucauld recebeu a colossal tarefa de recuperar essa milenar tradição de sabedoria e de atualizá-la. Por isso mesmo, sua obra não fez mais que começar.(Pablo d”Ors).
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8º- O LEGADO DE CARLOS DE FOUCAULD SEGUNDO PABLO D’ORS
Oficina de Espiritualidade: Conferência Madri 18/11/2014: As razões de uma fascinação.
Para Pablo d”Ors (http://pablodors.blogspot.com/) para mim, seis palavras definem o legado de Carlos de Foucauld:
1º-Aventura
Carlos é atraente por três razões:
1º É uma pessoa que escutou sua consciência. Isso, hoje, é raro. Vivemos na superfície, não nos escutamos.
2º Não somente escuta a sua consciência, mas também a obedece. Isto é todavia mais raro. Nós as vezes escutamos a consciência, mas a obedecemos alguma vez.
3º Não só escutou e obedeceu a sua consciência, mas fez dessa escuta e essa obediência estilo de vida. Sempre obedeceu às moções mais íntimas do seu interior.
Vejamos como a vida de Foucauld é esquisita, rara, não se parece a ninguém. Todos nos parecemos a alguém. Foucauld não se parece a ninguém.
O que significa que não se parece a ninguém?
Significa que ele tem feito a aventura de ser ele mesmo. Escutar sua consciência e segui-la e ser ele mesmo.
Seguramente que se cada um de nós escutasse a sua consciência e a seguisse, seriamos muito diferentes uns dos outros.
A diferencia é um grande presente porque isso nos possibilita a unidade. Graças a que somos diferentes podemos estar unidos, porque se fossemos iguais não haveria unidade, haveria uniformidade.
Se nos pegássemos três personagens que tem escutado sua consciência e a tem seguido até o final, eu diria Mahatma Gandhi, Carlos de Foucauld e Simone Weill.
Estes personagens para mim somos modelos não porque não se pareçam a ninguém, mas porque tem feito a experiência de serem eles mesmos até o final como uma aventura.
Carlos de Foucauld supõe um convite a viver não desde a segurança, a certeza, mas desde o risco, desde a aventura de obedecer ao coração, a consciência.
Ele é um ser que foi um verdadeiro buscador incansável. A mim interessa mais sua biografia que os seus escritos.
Ele fez da sua vida um experimento, uma obra de arte, se preocupou não somente por deixar um legado espiritual, mas um legado vital, porque viveu com uma grande paixão, paixão não somente significa, algo que agrada muito, mas algo que faz sofrer.
Ele sofreu pelo seu amor. Isso significa para ele que a fé não foi somente algo puramente mental, isto é, um credo que se professa com a mente e os lábios, também não foi algo simplesmente cordial, uma fé que passa da cabeça ao coração, foi uma fé carnal. Quer dizer, a encarnou, lhe marcou, lhe estigmatizou.
Quando alguém acredita em algo de verdade muda, muda seu rosto, muda fisicamente. O poder da convicção, o poder do entusiasmo, nos muda fisicamente. Nós levamos uma nossa cara a nossa história. Nossas dores, nossas sombras, nossas pisadas, nossas alegrias, sucessos, perplexidades. Bom, esta é a primeira palavra. Agora segunda.
2º-O segundo termo é o deserto.
Devo contar que não foi Foucauld que me levou ao deserto, foi a deserto que me levou a Foucauld. Todos na vida passamos por momentos de dificuldade, momentos de deserto. Eu tive meus momentos de deserto e no último, quando fiz quarenta anos aparece na minha vida Carlos de Foucauld. Porém, não foi Foucauld que me levou ao deserto, foi o deserto que me levou a ele. E ter um amigo no momento que temos uma dificuldade, que atravessamos pelo deserto é um tesouro. Primeiro porque Foucauld me ofereceu uma sustentação ideológica, isto é uma tela desde onde eu li minha própria experiência.
Muitas vezes quando passamos por uma dificuldade, por um deserto não sabemos o que acontece conosco. Não sabemos nos entender. Foucauld me brindou uma forma de eu entender que me estava acontecendo. Além da sustentação ideológica me deu uma companhia sentimental. Quando a gente está mal e aparece no caminho um amigo que o ajuda que o apoia, é um tesouro, uma grande
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satisfação. Não somente é um apoio ideológico e uma companhia sentimental, é algo mais profundo e misterioso, todavia, que podemos chamar de “comunhão espiritual”, que inclui a mente, o coração, a ideologia, as crenças e os afetos, porém, os transcende.
Vejamos um exemplo:
Quando fazemos um retiro de vinte ou trinta pessoas (d’Ors faz periodicamente retiros com membros ou convidados “Dos amigos do deserto” que ele fundou) e, no final temos uma roda de opiniões para contar e saber como foi a experiência do retiro, em silêncio profundo, as pessoas, além de dizer que estiveram muito bem, felizes, que todos são muito agradáveis. As pessoas dizem:
“Queremos agradecer a todos vocês, porque foram geniais, fraternos, amigos, boa companhia, porém… se ninguém, sequer sabe o nome dos outros, não se tem trocado uma só palavra e, se diz que agora todos são amigos.
Aqui não há uma empatia psicológica, não se tem partilhado palavras. Apenas se tem partilhado o silêncio. O silencia quando é verdadeiro e profundo cria um vínculo de comunhão muito profundo, muito sólido.
Quando a gente conhece a alguém, muitas vezes, o silêncio é violento, vejam o caso do vizinho no ascensor: ele não sabe o que dizer, eu não sei o que dizer, é um silêncio violento.
Porém, quando há uma relação, por exemplo, o silêncio com o ser amado. Não quer dizer que se corta a comunicação, mas, aqui, há uma outra forma de comunicação mais profunda. Assim, eu tenho podido viver essa comunhão com Foucauld. ´E a pessoa que mais admiro depois de Jesus Cristo.
Admirar, me parece ser fundamental na relação de amor. Bom. Seguindo as pisadas deste homem de Deus, fui ao deserto, ao Saara, fui aos lugares onde ele morou. Fui a um monte o Secretem que é uma montanha na Argélia onde ele tinha uma capelinha. Ai compreendi um pouco a fascinação pelo deserto, em Carlos de Foucauld.
Por que o deserto?
O deserto é um espaço especificamente vazia. Por ser um espaço vazio é um convite para que nós façamos um vazio interior, no nosso coração. De fato, tendemos a criar comunhão com o que existe fora. Se há silêncio, nos calamos, se há movimento, barulho, ação entramos em cena.
O deserto era como um espaço cenográfico daquilo que era o coração, o espírito de Foucauld. Então as pessoas pensarão que triste, que aborrecido um lugar vazio. Mas é todo o contrário, para os poetas ou metafísicos o vazio é o êxtase da possibilidade, isto é, onde nada há, pode haver qualquer coisa. Pode entrar qualquer coisa ou qualquer um. Por isso nos preocupa p vazio, mas não quando sabemos o que via entrar, ai nos tornamos receptores.
O seguinte conceito é Amizade.
3º-Amizade
Foucauld é uma pessoa desconcertante. Por uma parte é o eremita, o monge, a pessoa solitária, mas por outra parte, é o exemplo do comunicador ou do missionário. Ele não foi ao Saara para morar sozinho, para ter tempo e espaço para rezar. Para afastar-se das pessoas e das coisas. Ele foi ao Saara para ficar mais perto das pessoas que ele pensava estão mais longe de Deus. Para estar mais perto dos pobres da terra. Dos necessitados.
Este binômio entre a solidão mais profunda e a comunicação mais intensa é muito misteriosa e afagadora. De fato, se ele tivesse tido a Internet e as redes sociais seu volume epistolar e as correspondências seriam surpreendentes. Sem meios, como hoje, ele passava muitas horas do dia lendo e escrevendo cartas. Seu nível de comunicação com muitas pessoas era grandioso.
Surpreende porque nós temos a ideia de que palavra e silêncio se conflitam. Mas silêncio e palavra não são opostos. O que é oposto ao silêncio é o ruído não a palavra. Silêncio e palavra são duas caras da mesma moeda. A verdadeira palavra que é capaz de chegar ao outro nasce do silêncio. Mas, não só brota do silêncio, também gera no interlocutor, silêncio.
Ele queria converter os muçulmanos, porém, Deus lhe concedeu
o dom não converter ninguém.
Não converteu a ninguém, se converteu a sim mesmo.
Se nós fizéssemos isso: convertermos a nós mesmos, em que?
Naquilo que estamos chamados a ser. Isso seria a melhor evangelização, o melhor serviço que podemos prestar à humanidade.
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Isso significa que ele converteu seu zelo evangelizador em amizade. Ele não podia converter os muçulmanos, mas se fez seu amigo. Isto é fundamental porque não se pode falar da fé se não há uma experiência relacional gratuita e livre. Isto é se você vai a evangelizar a uma pessoa sem conhecê-la. Não está evangelizando-a. Está adotrinando-a.
Se sobre essa amizade ou amor se apresenta a fé, ai se que está acendendo a chama da transcendência. Porque não podemos passar pela transcendência sem passar pela humanidade.
A transcendência não é outra coisa que a Humanidade plenificada. Toda atividade de evangelização que não tenha em conta a relação pessoal livre e gratuita está condenada ao fracasso. Você vai ao outro porque você o ama, não para oferecer-lhe alguma coisa. As pessoas não querem ser agarradas.
Carlos de Foucauld como não pode evangelizar, como ele pensava, se faz amigo dos muçulmanos e aí descobre seu compromisso evangelizador com eles. Isto me parece maravilhoso. O cristianismo não é uma ideologia, uma doutrina ou uma moral ou uma prática como o amor. O cristianismo é uma experiência que é a de sentir-se amado.
A ideologia pode discutir-se e confrontar-se. Mas na experiência de sentir-se amados, ai sim todos comungamos. Tudo o que nos une cheira a transcendência, a evangelho. Tudo o que nos separa não.
Carlos de Foucauld morreu sozinho, mas hoje dez mil pessoas seguimos seu carisma, seu espírito. Se nós somos o que devemos ser na vida, sempre haverá pessoas ao nosso redor. As pessoas buscam autenticidade.
4º-Descendimento
Tive um insight, antes de escrever este livro, “um grande grupo de gente caminhava para um lugar e um grupinho acompanhado de Foucauld caminha ao contrário”. Porque enquanto o mundo busca honra, privilégios, glória Foucauld não quer subir, quer descer. Não subir, mas descer, quer mais anonimato, não sucesso, mais fracasso
Este movimento de abaixar, descer é ou deveria ser o movimento tipicamente cristão. Isso foi o que fez Jesus se abaixou.
“Ele tinha a natureza de Deus,
Mas não tentou ficar igual a Deus. Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. (Filipenses 2,6-11).
Isto fez Foucauld na sua vida.
Mas, por que abaixar-se é importante?
Na medida em que subimos em prestígio, dinheiro, luxo, comodidades, etc. mais nos afastamos das pessoas. No final, se soube tanto que as pessoas se enxergam como formiguinhas lá longe e já não são pessoas, são massa. Quanto mais alto se está, mais se perde as pessoas e enquanto mais se perde as pessoas, mais se perde a verdade.
A verdade está abaixo, não acima. E o caminho da meditação é um empobrecimento, um caminhar ao esvaziamento, é um ir para ser menos, não para acrescentar, mas tirar. Isso produz medo (Vazio, no budismo).É a pobreza espiritual.
Durante toda a vida eu tinha pensado que a identidade de uma pessoa consistia em construir, em acrescentar, adicionar, anexar conhecimentos, práticas, experiências, relações pessoais, viagens, coisas, uma vida muito agitada, etc.. A partir de Foucauld comecei a me perguntar se a identidade, no lugar de ser um acrescentar, não era sim, um descobrir a si mesmo despojando-se das coisas que não sou eu. Então não se trata de acrescentar, mas de tirar de si o que não sou eu. vou tirando e vou descobrindo o essencial.
Foucauld fez esse caminho de abaixar-se, de ser ele mesmo. Existe uma pequena novela que sintetizaria isto que estamos falando: Os olhos do irmão eterno de Stefan Zweig.
5º-Pela Oração
Foucauld não era só um homem que orava a Deus, um homem que meditava, fazia silêncio, era um homem que adorava. E o que é a adoração?
Adoração é pôr o centro da atenção em outro. Neste caso ele a punha no Sacrário. Em Jesus. A adoração é o exercício de descentramento e colocar o centro em outro. É um exercício espiritual de descentramento, de pôr por centrem. Desconcentrar-se totalmente é a única maneira de estar no centro de outro.
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O que é escutar? É por o centro de atenção naquilo que se ouve ou na pessoa que está falando. Para escutar bem, é preciso que você esqueça você mesmo Se você está preocupado no que vai dizer, responder o reagir, não está escutando. Quem escuta está no outro. Só colocando o foco de atenção no outro se consegue escutar.
No cristianismo diante da Eucaristia, do Pão consagrado, existem duas formas de culto. Uma é a comunhão e outra é a adoração.
Comunhão significa intimidade completa. E adoração significa distância. A distância nos lembra que nós, não somos Deus.
A Comunhão celebra a proximidade de Deus, mais íntimo à pessoa impossível.
A adoração celebra a distância de Deus, o que é uma boa notícia: Deus não é o homem, é o outro distinto.
A adoração ao Santíssimo recria a distância do homem contemporâneo com seu Deus.
A distância que nos separa do ser em questão permite que se gere uma história entre as duas pessoas: ir para a pessoa, afastar-se da pessoa ou perder-se. A distância também serve para explicar que Deus não se impõe ao homem, Ele se propõe. Ele respeita a liberdade da pessoa para que faça a sua opção, decisão livre. Se ele fosse uma presença ostensiva a pessoa não poderia dizer o contrário. Vejamos a história dos discípulos de Emaús, eles caminham e na casa dizem: ao partir o pão eles o reconhecem, e ao reconhecê-lo, Ele desaparece. “Não ardia o nosso coração (Lucas 24,32) É na ausência, na distância quando se reconhece a presença.
Aqui, Foucauld me ensinou, o que eu chamo a “Ética da contemplação”. Isto, muitas vezes, nos pensamos que a oração, a adoração nos prepara para termos uma vida qualificada, preparada, como se isso nos preparara para o sucesso na vida.
Não é bem assim. A oração, a contemplação, a adoração, já é transformadora. É transformadora em si mesma. Observa fixo algo durante um tempo. O que acontece, o rosto muda. Enxerga cravado durante um tempo prolongado o rosto de alguém, durante cinco minutos muda e meia hora mais, muda mais. Ou você mesmo, fixamente observe-se no espelho cinco minutos. Experimentará uma quantidade de sentimentos que se vão produzindo e as mudanças que suscitam.
O drama é que nós não nos enxergamos. Não enxergamos aos outros, não enxergamos as coisas e ficamos perdidos.
A ética da contemplação significa que o silêncio é transformador por se mesmo, nos muda.
6º-Pelo rosto.
Minha relação carinhosa com Foucauld, iniciou de uma forma muito patética.
Encontrei-me na necessidade de procurar trabalho. Em uma editora me colocaram como revisor de literatura para crianças. Porém, eu sou teólogo, pensei que me dariam uma atividade nessa linha, Mas, não. Eu não sabia fazer esse trabalho de revisor. Assim que os chefes não me davam trabalho e eu ficava frente ao meu computador lendo, respondendo comunicações, ate fiquei aborrecido. Nessa situação recebi uma estampa de Foucauld. Eu a colei no canto da telado computador. Como não tinha trabalho para fazer, eu olhava o rosto de Foucauld, uma hora, duas, um dia, uma semana. Aí eu fui mudando. Passei várias semanas, fiz vida contemplativa obrigatória. Até que chegou um dia ao me levantar e olhar no espelho me perguntei: “Estou parecido com Foucauld?”
Isto é maravilhoso, porque nos vamos parecendo com aquilo que olhamos. Mora em um lugar estreito e horrível e ficarás assim. Mora em um lugar extenso e de muita luz e tu mente virará assim. Confesso que minha fascinação por Foucauld, começou pelo seu retrato. Agora ao eu escrever o livro sobre Foucauld, analisei todos os retratos que encontrei sobre Foucauld.
Colecionei muitas fotografias, as ordenei cronologicamente e fiquei maravilhado. Vi a história de um homem escrita no seu rosto. Desde sua infância, jovem, amadurecido, sereno, alegre. Eu gostaria de morrer com um rosto assim.
9º- CONCEITOS QUE DEFINEM O IRMÃO UNIVERSAL
Agora Pablo D’Ors, tenta com sete palavras, oferecer um retrato do seu inestimável mestre.
1- Busca
A vida deste homem foi totalmente rara. Foucauld não se parece com ninguém. Dizia de si, segundo as épocas, que queria ser monge ou eremita, mas o certo é que viajou muitíssimo, que passou por diferentes lugares, que foi um peregrino estrutural. Esta mudança de horizonte, geográfico, mas
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sobretudo existencial, esta metamorfose constante que o levou a ser hoje um explorador disfarçado de judeu e amanhã autor de um dicionário tuaregue, hoje soldado do Exército francês e amanhã jardineiro de algumas freiras em Nazaré, coloca às claras sua contínua busca. Foucauld, como Gandhi ou Simone Weil (Paris, 3/02/1909 – Ashford, 24/08/1943) escritora, mística e filósofa francesa) em outras ordens, fez de sua vida um autêntico e contínuo experimento.
2- Consciência
Passou a vida examinando sua consciência, entrando nas motivações de seus atos, examinando cada detalhe minuciosamente, como aprendeu de Santo Inácio (Azpeitia, 31/05/1491 — Roma, 31/07/1556) foi o fundador da Companhia de Jesus), projetando sonhos com os quais poderia dar corpo a uma intuição, olhando-se no espelho de Jesus Cristo, seu Bem-amado, estudando o mais conveniente, reprovando suas próprias faltas, agradecendo os dons recebidos… Foucauld, que foi um soldado em sua juventude, no fundo, não deixou de sê-lo em sua idade adulta. Não só era um apaixonado, mas um estrategista: alguém que planeja sua entrega, que reforça os flancos mais fracos, que esboça planos para dar fecundidade a seu ingovernável amor.
Passou muitíssimos dias e horas na mais estrita solidão e no mais rigoroso silêncio. E nesse caldo de cultivo, aprendeu a escutar. E obedeceu a voz que escutava e, mais que isso, fez dessa escuta e dessa obediência um estilo de vida: sempre escutando e obedecendo, sempre após a aventura de ser a si próprio. Sempre entendendo que ele era a melhor palavra, talvez a única, que Deus lhe havia concedido.
3- Deserto
Foucauld se converteu na África do Norte, admirando a extraordinária religiosidade dos muçulmanos. Entendeu o deserto primeiramente em forma de metáfora, daí que buscava ser monge, inicialmente, em Ardèche, e depois em Akbès e até na Terra Santa; mas depois voltou ao deserto do Saara, o de sua juventude, a seu amado Marrocos e a sua desejada Argélia. E era ali que o destino e a providência lhe esperavam. Talvez porque poucas localidades da terra, ao estar tão desoladas, podem evocar e remeter com tanta força ao mundo interior.
Foucauld é um sinal permanente de como sem deserto e purificação não há caminho espiritual.
4- Adoração
Em meio a esse deserto, Foucauld adora. Esta é uma palavra que hoje nos é estranha, mas adoração significa, pura e simplesmente, que o homem não se realiza pela via do ego, mas saindo do próprio micromundo e superando essa tendência tão nefasta como generalizada à apropriação e autoafirmação.
Adoração quer dizer tão somente deixar de viver a partir do pequeno eu para dar passo rumo ao eu profundo, onde mora o hóspede divino. Saibam ou não, todos os que buscam o mistério por meio da meditação tem – temos – em Charles de Foucauld um mestre insigne. Amou muito porque silenciou muito. Falamos dele porque se esvaziou de si.
5- Nome
“Te quero, te adoro, quero oferecer tudo por ti, como me amas, como te amo, te dou graças, coloco-me em suas mãos, faz de mim o que desejares, te louvo, meu Bem-amado…”. Na história, poucos homens como Foucauld deixaram um testemunho escrito tão eloquente de seu apaixonado amor por Jesus de Nazaré.
O nome de Jesus, como um incansável mantra, acompanhou Foucauld durante quase todos os minutos de sua vida. Era um louco de amor, um apaixonado por esse nome, alguém que deixou que o nome, e a pessoa a quem evoca, lhe possuíssem. Isto significa que a solidão na qual Foucauld viveu era acompanhada, por mais dura que em algumas ocasiões pudesse ser. Que seu silêncio era sonoro, por mais doloroso que muitas vezes pudesse ser. Só há uma palavra que explica a incrível aventura humana de Foucauld: Jesus.
6- Coração
O nome de Jesus foi se enraizando em sua consciência e em seu coração, de modo que ambas, unidas por fim no que poderíamos chamar de coração consciente, eram o lugar em que essa Presença morava.
Foucauld foi um sentimental. Ainda que seu chamado tenha sido a oração contemplativa e silenciosa, nunca abandonou a oração afetiva, alimentada por palavras e imagens que lhe inflamavam. Praticou o que os hesicastas chamam a guarda do coração: sentir a vida, oculta e frágil, em cada palpitação; sentir a Vida com letras maiúsculas nessa nossa vida, tão limitada como intensa, tão humana e tão divina.
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7- Fracasso
Ao término de sua vida, pouco antes de ser assassinado, Foucauld se encontra com as mãos felizmente vazias. Seria possível dizer que ao longo de sua existência colheu um fracasso após outro: foi o último de sua promoção no Exército, do qual, repetidas vezes, esteve a ponto de ser expulso por seus escândalos e indisciplina. Fracassou também como patriota e abortou sua vocação de explorador, desperdiçando uma brilhante carreira profissional. Monge fracassado da trapa de Heikh.
Fracassado também em seu quimérico projeto de adquirir o monte das Bem-aventuranças para se instalar ali como eremita. Nenhuma só conversão após anos de apostolado. Nenhum só seguidor após ter redigido tantos esboços de uma regra para seus projetados eremitas. Ignorado pela administração civil e pela eclesiástica, nenhum escravo redimido, nenhum companheiro para sua missão…
“Charles de Foucauld é um dos melhores ícones do fracasso, porque preferiu os últimos postos aos primeiros, a vida oculta à pública, a humilhação à exaltação. Por tudo isso, Foucauld é essa imagem na qual todos os fracassados da história podem se reconhecer. E por tudo isso vejo, muitas vezes, as pessoas do mundo caminhando em uma direção e Foucauld na contrária. Mas não é o único; há outros com ele, todos solitários, todos loucos. E o primeiro dessa fila é o próprio Jesus Cristo, o mais louco de todos”, (Pablo d’Ors, presbítero, escritor e conselheiro cultural do Vaticano).
10º- O MARABUTO CHARLES DE FOUCAULD
No dia 1º de dezembro de 1916, morria Charles de Foucauld, assassinado aos 58 anos de idade por um grupo armado da tribo dos Senussi, que tinha cercado o seu eremitério de Tamanrasset no Saara argelino. Se a notícia da sua morte não teve uma grande repercussão na Europa dilacerada pela Grande Guerra, o religioso passaria aos olhos da história como um dos mais importantes da sua geração, na virada de dois séculos.
A primeira biografia escrita por René Bazin em 1923 consagrou a sua posteridade espiritual, tornando conhecida na França e, depois, no mundo a sua personalidade fora do
Comum e a sua obra prolífica, que suscitaram tantas vocações.
A um século da sua morte, uma nova obra dedicada à vida do religioso, beatificado por Bento XVI em 2005, intitulada “Charles de Foucauld 1858-1916” (Paris: Éditions Salvator, 2016, 720 pág), com o prefácio do Pe. Bernard Ardura, postulador da sua causa de
Canonização, por sua vez, deverá marcar época.
O autor, Pierre Sourisseau, é um dos melhores conhecedores do padre eremita: arquivista da sua causa de beatificação, tem 35 anos ativos de trabalhos de pesquisa, de artigos e de conferências sobre ele.
O livro, semelhante a uma suma, apresenta uma série de retratos de Foucauld, seguindo as etapas da sua vida e os seus diversos status, desde a sua infância em Estrasburgo e a sua juventude no Exército, até a sua vocação missionária entre os tuaregues do Saara.
Ele também refaz detalhadamente os seus anos de busca contemplativa na Terra Santa, na trapa na França, depois na Síria, assim como a sua estada entre as irmãs clarissas em Nazaré, onde floresceria a sua vocação profunda, até sua ordenação em Viviers, no dia 9
De junho de 1901.
Através da volumosa correspondência de Foucauld, inúmeras citações das suas obras e documentos inéditos da sua causa de canonização, Sourisseau também lança luz sobre alguns elementos ainda em debate. Particularmente, ele atenua a imagem de libertino impenitente e de diletante atribuída ao jovem antes da sua conversão, especialmente como oficial.
Se o apelido de “literato folião”, aplicada a ele pelo seu amigo, o General Laperrine, certamente não é totalmente infundado, a sua correspondência da época já deixa entrever um jovem homem profundo, em busca de um ideal, que se revelaria como um trabalhador incansável quando um projeto está em seu coração. Os relatos da sua expedição aos países do Magrebe entre 1882 e 1886 – depois de se dispensar do Exército – confirmam isso: a ardente fé que ele observa entre os muçulmanos colocará novamente no centro das suas reflexões a questão da transcendência, que ele tinha liquidado durante a sua adolescência.
Ao contrário de uma ideia muito difundida, segundo a qual ele teria se convertido de repente ao entrar na igreja de Saint-Augustin em Paris, apenas no fim de um longo percurso, acima de tudo intelectual, é que Foucauld abraçaria novamente a fé. Duas pessoas tiveram um papel determinante no processo: Bossuet e a sua amada prima Marie de Bondy. Esta última tinha-lhe presenteado, pela sua
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primeira comunhão, as Elévations sur les mystères, obra-prima do grande pregador que ele redescobriria em Paris no seu retorno do
Marrocos, no verão de 1886.
Charles sentiu, na época, uma inclinação nova pela própria ideia de virtude, inclinação reforçada pelo clima de doçura instaurado pelas presenças femininas da sua tia e das suas primas, junto das quais ele vivia e nas quais encontrou “o exemplo de todas as virtudes unido à visão de grande inteligência e de convicções religiosas profundas”, como ele escreveria alguns anos depois.
Para satisfazer esse impulso da alma, no início, porém, ele se voltou aos moralistas da antiguidade, aqueles mesmos filósofos “pagãos” que, anos antes, tinham-no levado a se afastar da fé cristã, mas entre os quais agora encontrava “apenas vazio e desgosto”. Entretanto, para o seu grande espanto, o modelo de virtude professado por Bossuet o reaproximou das suas aspirações profundas, a ponto de lhe fazer pensar que “a fé de uma mente tão grande (…) talvez não fosse tão incompatível com o bom senso como (lhe) tinha parecido até então.
A sua prima Maria, que o tinha feito “sentir o calor e a beleza” da obra de Bossuet, encarnava a forma mais perfeita daquela “beleza de ânimo” que deixava transparecer uma virtude “tão bela a ponto de lhe ter capturado irrevogavelmente o coração”.
Foi então que Charles decidiu fazer cursos de religião na cripta de Saint-Augustin, proferidos por Henri Huvelin, que mais tarde se tornaria o seu diretor espiritual. A partir daquele momento, Charles de Foucauld manteria uma relação epistolar constante com o padre, que ele considerava um pai e que exerceria uma influência considerável sobre ele.
A fidelidade de Foucauld à sua família e aos seus inúmeros amigos é atestada por uma densa correspondência. Mas foi à sua prima Maria – aquela quem despertara nele o gosto pelo Evangelho e que ele chamava de “Mãe” – que ele reservou o seu maior afeto. Um afeto acompanhado por uma profunda admiração recíproca, revelada, no decorrer da biografia, por muitas passagens das suas trocas epistolares, quase cotidianas.
Maria era para Charles uma figura de santidade, que ele consultava todas as vezes em que nasceu uma dúvida nele. Também foi ela que lhe fez descobrir a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que se tornaria o seu emblema. Aquele coração encimado por uma cruz que ele trazia sobre a sua veste litúrgica e que ele mostrava no cabeçalho de todas as suas cartas também era o símbolo daquilo que Maria tinha despertado novamente nele: “Você acendeu o fogo do Amor divino no meu coração, onde ele tinha se apagado, e me salvou quando eu estava perdido”, ele lhe escreveu no dia 2 de julho de 1901, poucos dias depois da sua ordenação e da sua primeira missa na festa do Santíssimo Sacramento. Foi naquele momento que ele sentiu o chamado a uma vida missionária no Saara. Irmão Charles de Jesus, à época, tinha 43 anos.
“A bola foi lançada: quem vai pará-la?”, escreveu um dia Huvelin a respeito do seu filho espiritual. Uma fórmula muito apropriada que ecoa o lema da família de Foucauld: “Nunca para trás”, e que se tornaria ainda mais pertinente na última parte da sua vida, marcada por um segundo chamado para a África do Norte. O chamado assumiu, então, um caráter diferente, o de uma “vocação especial”. Huvelin, contrário no início à ideia de uma partida de Charles para regiões tão distantes, acabou compreendendo a sua dimensão espiritual. “Algo o impulsiona, algo irresistível, creio eu”, escreveu ele a Marie de Bondy.
Charles passou inicialmente três anos em Beni Abbès, na Argélia, durante os quais se distinguiu pela sua luta ativa contra a escravidão. Mas, ao não conseguir trazer companheiros para a fraternidade que havia erguido, decidiu, a convite do comandante Laperrine, se aproximar dos tuaregues, povo que vivia no coração do deserto. Em Tamanrasset, na região do Hoggar, aquele que os tuaregues chamam de “marabuto cristão” não poupou esforços: a partir do Natal de 1905, ele começou a traduzir os Evangelhos em língua tuaregue e depois elaborou – com a ajuda de um amigo intérprete – um vocabulário tuaregue-francês. Também escreveu textos em prosa sobre os costumes ancestrais daquele povo, fundamentado nos testemunhos dos anciãos.
Esses trabalhos de pesquisa, de valor científico sem precedentes, estavam em sintonia com o apostolado do irmão Charles de Jesus: a difusão da beleza do cristianismo com as suas obras e a sua bondade. Com efeito, a sua rápida conscientização dos limites da evangelização tradicionais entre o povo tuaregue havia inspirado nele esta intuição, expressada em uma carta ao Mons. Guerin: “Não devemos pregar Jesus, mas preparar a Sua pregação”. Justamente nesse apostolado original, nessa eclesiologia antropológica, Mons. Maurice Bouvier, postulador da sua causa de beatificação e canonização entre 1990 e 2011, percebeu algumas intuições antecipatórias do espírito do Concílio Vaticano II.
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“É no momento em que Jacó está a caminho, pobre, sozinho, em que se estende sobre a terra nua, no deserto… é no momento em que ele se encontra nessa dolorosa situação de viandante isolado, no meio de um longo caminho em um país estrangeiro e selvagem, sem alojamento, é no momento em que ele se encontra nessa triste condição que Deus o enche de favores incomparáveis.”
Essa meditação bíblica (inspirada em Gênesis 28) de Charles de Foucauld, escrita durante a sua estada em Roma, em dezembro de 1896, resume de modo particularmente eloquente o seu percurso espiritual: o de um homem insaciável no seu seguimento de Jesus, em constante busca na sua vocação.
Uma meditação que assume traços eminentemente proféticos no momento em que Charles, tendo chegado a uma encruzilhada da sua existência, está prestes a empreender caminho que se anuncia tão abissal quanto o de Jacó.
11º- CHARLES DE FOUCAULD, UM SER HUMANO EM BUSCA DE DEUS.
1º centenário de sua morte
Na clássica biografia de 1921 – agora disponível no catálogo da editora Paoline – René Bazin o evocava como “explorador do Marrocos, eremita no Saara”. A “um oficial dissipado e festivo, do tipo mais vulgar”, em vez disso, se referia Paul Claudel, 30 anos depois, na abertura do seu poético retrato do “Visconde de Foucauld”, ou seja, o irmão “Carlo”, como costumeiramente é chamado na Itália o Bem-aventurado Charles de Foucauld.
A reportagem é de Alessandro Zaccuri, publicada no jornal Avvenire, 27-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Definições impecáveis, nenhuma das quais pode ser isolada das outras, especialmente na véspera do primeiro centenário da morte – ou, melhor, do martírio – desse homem que se encontrou sendo tudo, mas apenas para descobrir que queria ser nada.
Por ocasião do aniversário, chegam às livrarias reproposições sugestivas (como outra biografia da época, “Charles de Foucauld. Explorador místico”, de Michel Carrouges, Castelvecchi, 228 páginas) e úteis antologias dos escritos (as “Páginas de Nazaré”, editadas por Natale Benazzi para as Edizioni di Terrasanta, 154 páginas, ou as meditações sobre os Evangelhos propostas pela editora San Paolo, com o título “Deus de misericórdia”, 204 páginas). E chega, muito esperado, o romance que o sacerdote-escritor espanhol Pablo d’Ors dedicou ao irmão Charles, “O esquecimento de si” (Vita e Pensiero, 414 páginas).
Charles de Foucauld, de fato, já tinha sido protagonista de outro livro de D’Ors, “O amigo do deserto”, publicado no ano passado pela editora Quodlibet na versão de Marino Magliani. Mas se tratava, naquele caso, de um protagonismo per absentiam, já que todo o relato girava, sim, em torno do desejo de escondimento e contemplação característico do irmão Charles, cujo nome, porém, aflorava de modo intermitente, quase para convencer o leitor da estrutura excêntrica e quase iniciática do livro.
Aparentemente, “O esquecimento de si” assume um andamento mais convencional. O que D’Ors nos apresenta desta vez é até o diário que o irmão Charles teria redigido a pedido do seu pai espiritual (e verdadeiro pai na fé), o abade Henri Huvelin. Justamente por ter sido escrito pelo próprio Charles de Foucauld, o relato é desprovido do dramático final, que coincide com a morte do religioso francês pelos invasores Senussi.
Era o dia 1º de dezembro de 1916, o irmão Charles tinha 58 anos e, há já 15 anos, levava uma vida como eremita no Saara argelino. A igreja-fortaleza de Tamanrasset, alvo do ataque que lhe custou a vida, tinha sido pensado e construído como posto avançado espiritual no coração do deserto. Antes de cair, o evangelizador dos tuaregues tinha salvo a Eucaristia, que representava o centro da sua espiritualidade.
É uma história conhecida, mas que nunca deixa de impressionar, de parecer tão extraordinária a ponto de parecer ter sido inventada por um romancista. Porque Charles de Foucauld nasceu nobre
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no dia 15 de setembro de 1858, logo se viu órfão e rico, passou por preguiçoso na escola e por fanfarrão no exército, onde também deu prova de coragem e aperfeiçoou a técnica da camuflagem, que lhe seria novamente útil dali a pouco, quando – entre 1883 e 1884 – faria a longa viagem no Marrocos interno, ao qual está ligada a sua fama de explorador.
A conversão remonta a 1886. Inicialmente, Charles foi admitido na Trapa de Nossa Senhora das Neves, em L’Ardèche, mas a sua vocação era inquieta demais para se formar totalmente à regra monástica.
Os anos decisivos foram os passados em Nazaré, justamente, entre 1897 e 1900. O irmão Charles trabalhou como jardineiro no convento das clarissas, avançando cada vez mais na busca espiritual e esboçando os contornos daquela que, mais tarde, se tornaria a comunidade dos Irmãozinhos e das Irmãzinhas do Sagrado Coração.
Ordenado sacerdote, estabeleceu-se na Argélia, em 1901, primeiro no oásis de Beni Abbes e, por último, em Tamanrasset, dedicando-se, dentre outras coisas, à compilação do primeiro e fundamental dicionário berbere-francês.
Uma vida que já parece um romance, como dizíamos, mas que Pablo d’Ors consegue reconstruir sem nunca insistir nos elementos mais surpreendentes, preferindo se concentrar na interioridade do irmão Charles. Se a sua entrada em cena pode lembrar a agitação do jovem Rimbaud, o título escolhido para um dos capítulos finais, “A missa sobre o mundo”, retoma literalmente uma expressão cara ao Cristo centrismo cósmico de Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), para reafirmar a continuidade acima de tudo espiritual da qual o irmão Carlos testemunha.
Do mesmo modo, nas epígrafes que introduzem cada seção do livro, D’Ors se mantém fiel ao estilo de fraternidade universal do seu Charles de Foucauld, que não guarda segredo do fato de ter redescoberto o Evangelho depois de ter conhecido o Alcorão.
Em “O esquecimento de si”, depois, aparecem citações dos “Contos de um peregrino russo” e do livro de canções sufi de Yunes Emre, dos mestres do zen budismo e das poesias do místico contemporâneo Dag Hammarskjöld, das cartas de São Paulo e do diário de Etty Hillesum (1914-1943).
Não é uma exibição genérica de sincretismo, mas sim a consciência de que a aventura do irmão Charles é, de fato, a aventura de qualquer alma em busca de Deus. De qualquer corpo, deve-se acrescentar, já que um dos aspectos mais convincentes do livro de D’Ors – autor, dentre outros, da magnífica “Biografia do silêncio”, publicada pela Vita e Pensiero em 2014 – consiste precisamente na insistência sobre o vínculo indivisível entre material e imaterial, entre visível e invisível.
Começamos a crer quando nos colocamos de joelhos, adverte o irmão Carlos de Foucauld do “Esquecimento de si”, e iniciamos a progredir na imitação de Cristo quando se aprende a praticar o jejum. Não é por acaso, aliás, que, entre as páginas mais belas, estejam precisamente aquelas em que os objetos da cotidianidade, iluminados pela luz sobrenatural da Eucaristia, revelam ao protagonista a silenciosa vastidão da Revelação:
“As coisas não reivindicam nada de nós: elas estão, são. E assim é Deus, eu pensava, Aquele que está, Aquele que é, Aquele que se oferece em tudo e em todos”.
12º- CHARLES DE FOUCAULD: EXERCÍCIOS EXTREMOS DO ESPÍRITO.
Lucetta Scaraffia
“Charles de Foucauld fracassa como soldado, como explorador, como trapista… mas também como fundador de uma nova ordem de irmãozinhos e irmãzinhas que marcam o seu caminho. Mas é somente no fracasso que se pode pensar a imitação de Cristo, do messias que morreu na cruz como um malfeitor.”
Professora da Universidade de Roma “La Sapienza”. In L’Osservatore Romano, 30-11-2016. Tradução de Moisés Sbardelotto.
Texto
Sobre os santos, sobre os gigantes da vida espiritual, foram escritos livros hagiográficos, biografias históricas ou ficcionais, mas ninguém ousou escrever uma autobiografia identificando-se no sujeito narrador a ponto de confundir a sua vida com a do próprio personagem.
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É precisamente essa a especificidade do livro de Pablo d’Ors L’oblio di sé [O esquecimento de si] (Milão: Vita e Pensiero, 2016, 300 pág.),que aborda a partir de dentro a vida de Charles de Foucauld. Personagem complexo e intrigante sobre o qual se multiplicam as biografias, seja pelo aniversário – o centésimo – da sua morte, seja pela atualidade da sua experiência de cristão apaixonado que aprende a viver e a conhecer o Islã.
As capacidades de d’Ors de entrar no personagem se enraízam em algumas inegáveis semelhanças: a origem aristocrática, a busca do silêncio como eixo dorsal da via espiritual, o deserto, a escrita. Em um sentido mais profundo, provavelmente, eles têm em comum a busca de Deus através de exercícios extremos do espírito, para depois descobri-lo vivo e presente até mesmo na mais humilde e banal das vidas humanas.
A existência do visconde Charles de Foucauld, que ficou órfão quando criança, foi, na primeira fase, a vida de quem protesta contra o seu destino, recusando-se a ser aquilo que, de vez em quando, lhe é exigido pela família e pelas circunstâncias: estudante apático, soldado indisciplinado e licencioso, ele só começa a revelar coragem graças ao amor pelo seu país, que lhe permaneceria por toda a vida.
A experiência no Exército colonial, que, naqueles anos, estava levando a termo a ocupação da Argélia, porém, lhe abriu novas e decisivas perspectivas. O deserto, um mundo desconhecido do qual ele imediatamente captou o fascínio e a riqueza, o atrai tanto a ponto de induzi-lo a mudar de ofício: de militar, torna-se explorador e começa a revelar o temperamento de aço ao suportar privações e humilhações, ao enfrentar perigos, que, depois, marcaria a sua vida posterior.
Explorador muito estimado, autor de um volume de pesquisa geográfica premiado na sua pátria, Charles percebeu que não estava interessado no sucesso mundano e profissional, e sentiu o impulso de voltar não só à religião dos seus avós, para entendê-la melhor, mas também a vestir o hábito trapista. Ao longo da sua vida, mas especialmente nessa primeira fase de incerteza e de busca, um papel central é desempenhado pela prima predileta, Marie, doce e crente, que ficaria ao seu lado até o fim, com inalterado afeto, apoio e confiança. Seria ela a destinatária das suas memorias.
A vida no mosteiro trapista marca o início de um longo e fecundo caminho espiritual, sempre em busca de uma pobreza mais plena, de uma humildade total, de uma radicalidade que ele considera desde o início como a única condição para chegar a Deus.
A chave autobiográfica permite colocar no centro da narrativa sempre e somente a vida espiritual de Charles, ler as suas tentativas de encontrar a condição adequada a ele – do mosteiro de freiras de Nazaré, onde ele era jardineiro, vivendo em um barracão de ferramentas, aos ermos de lama que ele constrói com as próprias mãos no deserto, primeiro em Beni Abbès, depois entre os tuaregues em Tamanrasset, onde morreria assassinado em uma incursão de predadores – e a sua crescente consciência, até a iluminação.
Uma história apaixonante, um percurso vertiginoso que é lido como um romance de aventuras, no qual aparecem personagens traçados com grande fineza, como o irlandês que o inicia no estudo do deserto, ou o comandante supremo dos oásis, que muitas vezes se perdia na contemplação do deserto e entendia profundamente o fascínio que ele exercia sobre Charles. Ou as complexas e difíceis relações com a população local, que se tranquilizam e se tornam para ele fonte de importantes experiências espirituais quando ele abandona toda ideia de evangelização, para buscar apenas a sua amizade.
A épica que acompanha a história como um fio dourado é a do fracasso:
Charles fracassa como soldado, como explorador, como trapista. mas também como fundador de uma nova ordem de irmãozinhos e irmãzinhas que marcam o seu caminho. Os irmãozinhos serão formados somente depois da sua morte, enquanto, a partir desse ponto de vista, a sua vida seria marcada por uma completa solidão. Mas é somente no fracasso que se pode pensar a imitação de Cristo, do messias que morreu na cruz como um malfeitor
E, ao percorrer a estrada da renúncia, Charles aprecia o fato de ter tido algo de importante a renunciar:
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“Sem a riqueza, nem os títulos de nobreza, sem honras, eu não poderia ter me desfeito desses títulos e dessas honras, dessa riqueza; e, sem uma renúncia significativa – como exigido em uma trapa –, as minhas escolhas teriam sido menos credíveis e, provavelmente, menos firmes e duradouras”.
Nem mesmo a trapa era bastante mortificante para ele, que admitiu sem hesitação ter sido sempre um exagerado, mas, escreve, “eu não me envergonho de ter exagerado, porque não concebo o amor sem exagero?
Em alguns momentos da vida, como em Nazaré, Charles chegou perto da loucura, que se confunde com a visão mística, talvez também na vida dos outros santos, d’Ors parece sugerir. Mas, será no ermo que ele tinha construído no deserto, em Beni Abbès, que, depois um longo período de fadigas e desilusões, Charles viveu a sua noite escura, que o levou a compreender aquilo que ele
define como “um dos mistérios mais insondáveis do cristianismo”, isto é, “assim como Deus criou o mundo do nada, segundo o que dizem as Sagradas Escrituras, do mesmo modo – do nada – Ele cria cada alma individual que se deixa trabalhar e moldar por Ele. O nada é necessário à criação. O nada é o cerne da experiência mística, porque (o) nada é Deus”.
Foi somente quando conseguiu abandonar todo projeto de evangelização, renunciar a tudo, que o eremita conseguiu encontrar a Deus nas pessoas que encontra, nos pobres que escuta e ajuda e, depois, até mesmo nas coisas, nos objetos de todos os dias.
“Ser testemunhas do Evangelho – afirma – não significa apenas testemunhá-Lo perante o mundo, mas também ser capaz de captar os seus testemunhos por toda a parte”.
Mas é Charles ou Pablo que está falando? A sobreposição completa entre escritor e personagem da obra, na qual o leitor cai completamente, emerge com clareza no fim, quando Charles, pouco antes de morrer, reflete sobre o silêncio do seu eremitério no Monte do Asekrem (2726Mts):
“Eu tenho a impressão de que, quanto mais rico somos dentro, mais somos silenciosos. O silêncio é a manifestação mais eloquente de uma interioridade fecunda: o ruído, ao contrário, é o ato de terrorismo mais eficaz contra a alma”, porque – continua – “eu passei a vida inteira exercitando-me para poder escutar a Deus, mas Ele, misteriosamente, me ofereceu apenas o silêncio. Há quem pense que o silêncio é a prova irrefutável da inexistência de Deus. De minha parte, eu acredito que é exatamente o oposto: o silêncio é a Sua melhor linguagem, a perfeita demonstração da liberdade que Ele nos concede e, portanto, do Seu imenso amor”
Tumba: Oasis de El Golea, 1916
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13º- CHARLES DE FOUCAULD: IRMÃO UNIVERSAL
Modelo de missionário em uma missão encarnada
Beato Charles de Foucauld, cujo centenário de morte (1916-2016) celebramos dia primeiro de dezembro, nasceu na França dia 15 de setembro de 1858.
Sua escolha de vida foi ser irmão universal no coração do Saara entre os muçulmanos e os povos tuaregues.
Viver como pobre nas periferias entre os últimos, numa atitude de escuta e na prática do apostolado da amizade e da bondade foi seu grande legado missionário. Antecipou as instruções do Concílio Vaticano II de abertura e diálogo com o mundo, as religiões e as culturas.
Seu percurso espiritual é marcado por inquietações e buscas pelo amor a Jesus, escuta aos Evangelhos, deserto, adoração eucarística, silêncio, experiência da gratuidade do amor de Deus, fraternidade universal e proximidade com os pobres.
Carlos de Foucauld era filho de aristocrata e ficou órfão aos seis anos, sendo cuidado por seus avós. Herdeiro de uma grande fortuna, seguiu carreira militar, fazendo expedições na África e levando uma vida indisciplinada.
O princípio de sua conversão dá-se em Marrocos quando observa a veneração com que rezavam os mulçumanos. Ali exclamou: “Deus, se existe, faça com que te conheça”. Ao regressar à França procura um padre para discutir a existência de Deus e o padre Hüvelin lhe diz: “Te ajoelha e te confessa”. Ali faz a experiência da misericórdia de Deus, dando início a um longo caminho de busca sobre o verdadeiro rosto de Jesus de Nazaré. Buscou responder a sua vocação indo viver em Nazaré para imitar Jesus em seu cotidiano. Foi jardineiro das irmãs Clarissas que lhe deram uma pequena casa para morar. Depois continuou seu percurso de vida mais austera num mosteiro Trapista. Ali seguiu com inquietações e discernimentos para atender o apelo missionário. Voltou à França e ordenou-se presbítero, sendo logo enviado à Argélia onde ficou até o final de sua vida.
Carlos de Foucauld
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O irmão Carlos de Foucauld tornou-se um paradigma missionário para padres diocesanos, leigos e leigas, religiosos e religiosas que se põem no caminho do seguimento a Jesus Cristo. Exemplo disso são algumas intuições que podem ser observadas para nossas práticas missionárias:
Missão que brota do encontro.
Seu processo tem a marca de várias conversões. Foi entendendo que a missão parte de Deus. Desde o seu primeiro encontro com Jesus, nunca mais parou de mover-se. Buscava entender a vontade de Deus e se abandona em Suas mãos. Evangelizou mais pela vida e testemunho, transbordando a experiência de ser amado e perdoado.
Missão como presença,
ou seja, mais importante do que fazer coisas é ser testemunho e gritar o Evangelho por um estilo de vida simples.
Missão com diálogo.
O missionário ad gentes que entra na casa do outro, sua primeira atitude é pedir licença. Apreender do outro, escutar as diferenças e dialogar, sem impor costumes e tradições.
Missão inculturada. Quando chegou à Argélia, começou a aprender o idioma dos Tuaregues, chegando a escrever os evangelhos em sua língua. O missionário ao chegar necessita primeiro aprender a nova língua e a apreender a nova mentalidade que encontra.
Missão sem espetáculos.
Irmão Carlos optou por estilo de missão com meios pobres e seguindo o caminho de Jesus em Nazaré numa vida oculta de trabalhador, valorizando a presença de Deus no cotidiano, sem fazer barulho de eventos e espetáculos.
Missão como entrega total.
Se fez pobre, dependente e frágil. De saúde frágil deixou-se cuidar e ser amado pelo povo tuaregue. Na juventude, antes da conversão, era considerado forte líder aristocrata francês. No final da vida e em tempos de guerra faz a experiência do fracasso, tendo um final trágico, assassinado no dia 1 de dezembro de 1916 por um disparo de projétil perdido.
Numa mudança de época onde crescem as mentalidades polarizadas, os fundamentalismos e intolerâncias culturais, políticas e religiosas, podemos aprender a dialogar com o que pensa e age diferente de nós, por isso, a opção por ser irmão universal é desafiadora e atual.
Pe. Maurício da Silva Jardim, diretor nacional das POM. Publicado no SIM – n.4, out-dez. de 2016. (http://www.pom.org.br/ser-irmao-universal/
14º- COMO UM GRÃO DE TRIGO. CARTA DE CHARLES DE FOUCAULD
O jornal L’Osservatore Romano, 30-11-2016, publicou um trecho de uma carta do irmão Charles de Foucauld ao abade Caron, enviada de Beni Abbès, Argélia, no dia 8 de abril de 1905. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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A carta
Sou um velho pecador que, no dia seguinte à sua conversão, há quase 20 anos, foi atraído com força por Jesus para viver a vida oculta de Nazaré. Desde então, eu me esforço para imitá-Lo, mas miseravelmente, infelizmente! Passei muitos anos nesta cara e abençoada Nazaré, doméstico e sacristão do convento das clarissas. Deixei esse lugar abençoado apenas para receber, há cinco anos, a ordem sagrada.
Padre livre da diocese de Viviers, os meus últimos retiros de diaconato e de sacerdócio me mostraram que esta vida de Nazaré, a minha vocação, eu não devia viver na Terra Santa, embora muito amada, mas entre as almas mais doentes, as ovelhas mais remotas, mais abandonadas: este banquete divino do qual me tornei ministro, eu devia apresentar não aos irmãos, aos parentes ou aos vizinhos ricos, mas aos mais coxos, aos mais cegos, aos mais pobres, às almas mais abandonadas que mais precisam de sacerdotes.
Quando jovem, eu percorri ao longo e ao largo a Argélia e o Marrocos: o Marrocos, tão grande quanto a França, com 10 milhões de habitantes, no interior não há nenhum sacerdote; no Saara argelino, sete, oito vezes maior do que a França, mais povoado do que se acreditava antigamente, há apenas uma dezena de missionários.
Como nenhum outro povo me parecia mais abandonado do que esses, eu pedi e obtive do prefeito apostólico do Saara a permissão para me estabelecer no Saara argelino para levar ali – em solidão, na clausura e no silêncio, no trabalho manual e em santa pobreza, sozinho ou com alguns outros padres ou leigos, irmãos em Jesus, na Adoração perpétua do Santíssimo Sacramento, se o bom Deus me der algum irmão – uma vida o máximo possível em conformidade com a vida oculta do amado Jesus em Nazaré.
Três anos e meio atrás, eu me estabeleci aqui em Beni Abbès, no Saara argelino, justamente na fronteira com o Marrocos, tentando, muito miseravelmente, de modo muito morno, viver ali a vida abençoada de Nazaré; até agora, fui apenas: “o grão de trigo que não morre, fica sozinho”.
Reze a Jesus para que eu morra a tudo o que não é Ele e a Sua vontade. Um pequeno vale é a minha clausura de onde eu saio apenas quando um dever muito urgente de caridade me obriga a fazê-lo – na falta de outro sacerdote (o padre mais próximo está a 400 km ao norte) – para levar Jesus a algum lugar…
Assim, fui forçado a viajar, por um longo tempo, em 1904… Mas eis-me aqui de volta à minha clausura, aos pés do divino Tabernáculo, para levar, sob olhos do Amado, uma vida tão semelhante à da divina casa de Nazaré, tanto quanto me permitir a miséria do meu coração…
Você entende agora como eu trago no coração o seu Jesus Adolescente! Quanto me comoveram as páginas em que você retrata o Modelo que, há 20 anos, eu me esforço para imitar! A sua partida para a Terra Santa me comove. Amo-a tanto, esta cara Terra Santa, e principalmente Nazaré!
Charles de Jésus, padre, 08 de abril de 1905
15º- CHARLES DE FOUCAULD E A FASCINANTE CONVERSÃO PELO AMOR A JESUS E AOS POBRES
Entrevista especial com Dom Edson Taschetto Damian bispo de São Gabriel da Cachoeira. É membro da Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas, que segue a espiritualidade de Charles de Foucauld. A diocese que dirige é uma das mais extensas, tem 293.000 km², e pobres do Brasil, com cerca de 95% da população pertencente a 23 etnias indígenas que habitam a região e que falam 18 línguas. Desde 9 de maio de 2019, é presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. (São Gabriel da Cachoeira é um município brasileiro do interior do estado do Amazonas, Região Norte do país. Localizado na fronteira com a Colômbia e Venezuela, no extremo noroeste do Brasil, o município também é conhecido como «Cabeça do Cachorro»).
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Por: João Vitor Santos | 11 Junho 2020
Dom Edson Taschetto Damian (Foto: REPAM)
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quem foi Charles de Foucauld e como compreender sua espiritualidade?
Dom Edson Damian
– Antes de tudo, algumas datas e momentos importantes nos ajudam a compreender quem foi de Foucauld.
o 15 de setembro de 1858 – Nascimento em Estrasburgo, França
o 30 de outubro de 1876 – Ingresso na Escola Militar
o Junho de 1881 – Voluntário do Exército da França na Argélia
o 10 de junho de 1883 – Viagem para conhecimento do Marrocos
o 29/30 de outubro de 1886 – Conversão na confissão com o Pe. Huvelin
o 16 de janeiro de 1890 – Ingresso na trapa de Notre-Dame Neiges
o 11 de julho de 1890 – Mudança para a trapa de Akbés, na Síria
o 23 de janeiro 1897 – Permissão para deixar a trapa
o 10 de março de 1897 – Empregado das Clarissas em Nazaré
o 09 de junho de 1901 – Ordenado sacerdote vai a Beni Abbés
o 11 de agosto de 1905 – Mudança para o Hoggar em Tamanrasset
o 01 de dezembro de 1916 – Assassinado em Tamanrasset.
CARLOS DE FOUCAULD
É um convertido que nos fascina pelo amor apaixonado a Jesus e aos pobres e também pela capacidade de exceder-se em generosidade nas várias etapas de sua conversão. “É preciso mudar muito para permanecer o mesmo”, ensina-nos dom Helder Câmara.
O teólogo Yves Congar disse que “Terezinha de Lisieux e “Charles de Foucauld foram os grandes faróis que iluminaram o século XX”.
Louis Massingnon, amigo que o conhecia bem, o descreve como: “um místico em estado puro”. E o padre Huvelin, conselheiro espiritual desde a conversão, afirma:
“Ele fez da religião um amor. Nele fé e amor nunca existiram separados”.
Diz de Foucauld:
“Perdi meu coração por aquele Jesus de Nazaré crucificado há 1900 anos e passo minha vida procurando imitá-lo, na medida em que minha fraqueza permite. A semelhança é a medida do amor”.
Foucauld pertencia a uma família da aristocracia. Órfão aos seis anos, foi educado pelos avós maternos. Recebeu formação cristã, mas na adolescência perdeu a fé e caiu numa vida mundana, totalmente desregrada, como ele mesmo descreve: “eu era só egoísmo, só impiedade, só desejo do mal, estava como que enlouquecido”. Ingressou na Escola de Cavalaria, mas foi expulso por indisciplina.
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Apresentou-se ao exército, que precisou de voluntários para ir a Argélia, colônia francesa. Lá foi impactado pela fé dos muçulmanos. Fez uma oração que repetia constantemente: “Deus, se tu existes, faça com que te conheça”. Aprendeu árabe, estudou o Corão, decidido a se tornar muçulmano. Retornou a Paris e foi acolhido pela prima Marie de Bondy, profundamente cristã, amiga desde a infância, pela qual tinha grande admiração. Através dela reaproximou-se novamente do cristianismo.
“Não podia fazer outra coisa a não ser viver só para ele”
Certo dia, pediu que a prima lhe sugerisse um padre inteligente para discutir o cristianismo. Indicou-lhe seu confessor, que através dela já conhecia a busca de Charles. Ao procurá-lo, na igreja de Santo Agostinho, este simplesmente o levou ao confessionário e lhe disse: “ajoelhe-se e confesse os seus pecados”. Depois o levou ao sacrário e lhe deu a comunhão. Assim descreveu depois este momento: “logo que descobri que Deus existe, entendi que não podia fazer outra coisa a não ser viver só para ele. Minha vocação religiosa começa no exato momento em que despertou a minha fé”.
A partir desta experiência, buscou vários caminhos, até retornar novamente ao Saara, na Argélia, “para levar o banquete da Eucaristia aos mais pobres e afastados”. Viveu em Beni Abbé e finalmente em Tamanrasset, onde foi assassinado, no dia 01/12/1916 por um grupo hostil aos cristãos.
Quem foi, afinal, Charles de Foucauld?
Um monge? Um monge que não se adaptou ao mosteiro, mas viveu como um contemplativo, no meio do mundo e dos pobres, fiel à intuição beneditina do “ora et labora”.
Foi eremita?
Viveu só, porém, sempre desejou ter companheiros, e a relação com as pessoas sempre foi intensa e contínua. Ele mesmo conta que o dia mais feliz de sua vida foi quando os nômades chamaram seu humilde eremitério de “fraternidade”, e a ele de “Irmão universal”.
Foi presbítero?
Ordenado na diocese de Viviers e Fidei Donum para viver entre os pobres do Saara. Atuou onde não existia nenhuma presença organizada da Igreja, com a consciência de que preparava o caminho para os que viriam depois.
Foi missionário?
Sim, mas num estilo diferente, porque diretamente, não converteu, não batizou ninguém, nem exerceu uma pastoral oficial. Foi presença fraterna, testemunho de amizade e solidariedade. Assim ele mesmo expressa a sua missão: “meu apostolado deve ser o da bondade. Vendo-me, os outros poderão dizer: já que esse homem é tão bom, sua religião deve ser boa. Se me perguntarem por que sou manso e bom, devo dizer: porque sou servo de alguém muito melhor do que eu. Ah, se soubessem o quanto é bom meu Senhor Jesus! Gostaria de ser bom para que dissessem: se assim é o servo, como então será o Senhor?”
IHU On-Line – Qual foi o milagre atribuído ao beato de Foucauld que agora o levará a ser declarado santo?
Dom Edson Damian – No dia 20/05/2020, a Congregação para a Causa dos Santos anunciou que de Foucauld será canonizado. Foi um caminho longo e tumultuado. O processo iniciou em 1925 com a escuta de testemunhos sobre sua vida. Datilografaram uma montanha de escritos de Charles: 539 laudas de trabalhos científicos, 2.417 de correspondências e 7.624 de escritos espirituais e meditações do evangelho. No total, 14.580 laudas.
No Concílio Vaticano II, de Foucauld esteve presente através do testemunho de vários bispos que seguiam sua espiritualidade e desejavam uma Igreja servidora e pobre. Este é o título – “Por uma Igreja Servidora e Pobre” que aproximadamente 500 bispos, entre os quais dom Helder Câmara, deram ao famoso Pacto das Catacumbas, firmado na Catacumba de Santa Domitila, no dia 16/11/1965.
O milagre atribuído a Charles de Foucauld não é uma cura miraculosa, propriamente dita, mas uma proteção num grave acidente. Um jovem carpinteiro, também chamado Carlos, caiu de um andaime de 15 metros em uma capela. Acidente que poderia levá-lo à morte ou à invalidez. O fato
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aconteceu em Saumur, onde morou de Foucauld. Lá existe uma paróquia dedicada a ele. No dia 30/11/2016, quando iniciava a memória litúrgica, em comemoração ao centenário da sua morte (01/12/1916), o operário acidentado foi colocado imediatamente sob a proteção dele.
Uma semana depois do acidente, o carpinteiro deixava o hospital sem nenhuma sequela.
Em breve, servirá para Charles de Foucauld o que ele dizia em relação aos santos e santas: “admiramos os santos para seguir Jesus”.
IHU On-Line – Podemos compreender a experiência de Charles de Foucauld como uma prática da inculturação da fé proposta pelo Papa Francisco? Quais os desafios para levar adiante a inculturação hoje?
Dom Edson Damian – Desde Pentecostes, a Igreja nasceu com muitos rostos. Nos primeiros séculos, a Igreja exprimiu sua catolicidade nos diferentes povos e culturas. Na beleza deste rosto pluriforme, a diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja. Mas, com o passar do tempo, a cultura greco-romana ocidental foi se tornando hegemônica e dominadora. E foi assumida também pela Igreja que tornou o cristianismo monocultural e monocórdico. Passaram-se muitos séculos até que nossa Igreja voltasse às fontes e descobrisse as “Semina Verbi” (Ad Gentes, 11), presentes em todos os povos e culturas. Isto quer dizer que o Espírito Santo sempre chega antes do missionário.
Nesse aspecto, de Foucauld foi precursor do Vaticano II. Quando foi viver entre os Tuaregues sabia que dificilmente se converteriam ao cristianismo. Confessou a um amigo protestante: “não estou aqui para converter os Tuaregues, mas para tentar compreendê-los. Acredito que o bom Deus acolherá nos céus aqueles que forem bons e honestos. Os Tuaregues são muçulmanos, mas Deus receberá todos, se merecermos”.
Entre muçulmanos e Tuaregues o ardor missionário de Charles cedeu lugar ao contemplativo que descobria a força da evangelização conduzida pela bondade e comunicada pelo testemunho silencioso.
“Você quer saber o que se pode fazer pelos nativos: não é hora de falar-lhes diretamente de nosso Senhor; seria afugentá-los. É preciso confiar neles, fazer-se amigo, prestar-lhes pequenos favores, dar-lhes bons conselhos, unir-se em amizade a eles, exortá-los discretamente a seguir a sua religião, provar-lhes que os cristãos se amam. Gritar o Evangelho de cima dos telhados, não com palavras, mas com a vida”.
Testemunho
Para de Foucauld, o testemunho é a primeira forma de evangelizar. Aprender a língua deveria ser a tarefa inicial do missionário ad gentes. De Foucauld não só aprendeu a língua dos Tuaregues, como realizou a tarefa mais difícil: a decodificação da língua. Obra que demanda grande sensibilidade auditiva para traduzir os sons em palavras escritas. Fez a gramática e um grande dicionário Tuaregue-francês. Além disso, recolheu contos, provérbios e poesias que contêm a sabedoria deste povo.
O Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum Progressio, cita de Foucauld, quando fala na obra dos missionários:
“Fiel ao ensino e exemplo do seu divino fundador, que dava como sinal da sua missão o anúncio da Boa Nova aos pobres, a Igreja nunca descuidou da promoção humana dos povos aos quais levava a fé em Cristo. Em muitas regiões foram contados entre os pioneiros do progresso material e do desenvolvimento cultural. Basta relembrar o exemplo do padre Charles de Foucauld, que foi considerado digno de ser chamado, pela sua caridade, ‘Irmão universal’, e redigiu um precioso dicionário da língua Tuaregue. Sentimo-nos na obrigação de prestar homenagem a estes precursores tantas vezes ignorados, a quem a caridade de Cristo impelia a servir generosa e desinteressadamente aqueles que evangelizam” (PP, 12).
Inculturação
A inculturação é um processo exigente e prolongado. Na diocese de São Gabriel da Cachoeira, no coração da Amazônia, onde 90% da população é constituída por Povos Indígenas de 23 etnias, o princípio que orienta nossa pastoral é este: “a boa nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”.
No prefácio ao livrinho que escrevi (Espiritualidade para o nosso tempo com Charles de Foucauld, Paulinas, 2007), Dom Pedro Casaldáliga diz: “quando a tentação da reconquista, da contabilidade, do marketing, paira sobre a pastoral e contamina pessoas e instituições eclesiásticas, vocês potenciam os meios pobres, o deserto, a Oração do Abandono, a busca do último lugar, a
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conversão do dia-a-dia. ‘Gritando o Evangelho com a vida’. Abrindo-se ao diálogo ecumênico e inter-religioso, do qual o irmão Carlos foi um exímio precursor”.
IHU On-Line – Numa entrevista que o senhor concedeu em 2008, disse que “num tempo em que a religiosidade torna-se de ruídos, balbúrdia de palavras e jogos de efeito, a espiritualidade foucauldiana é um contraponto para quem se sente mais evangélico no silêncio da oração”. Agora, diante da pandemia e das igrejas com celebrações sem público, muito se discutiu sobre o papel do templo na vida cristã. Como a espiritualidade de Charles de Foucauld pode nos ajudar a refletir sobre as celebrações suspensas?
Dom Edson Damian – Esta colocação me fez lembrar a pergunta que a samaritana fez a Jesus no poço de Jacó: “onde se deve adorar a Deus? No templo de Jerusalém ou sobre a Montanha de Sicar?”. Jesus respondeu: “vem a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e verdade, pois são estes adoradores que o Pai procura” (Cf. Jo 4,19-24).
Não poder frequentar templos, decerto, poderá estar contribuindo para que as famílias reaprendam a rezar e ler juntos a Palavra de Deus, para que descubram a igreja doméstica, que é a sua própria casa. Na intimidade da família em oração, certamente o Pai encontra “adoradores em espírito e verdade”. O livro do Atos dos Apóstolos descreve que a Igreja nasceu e se consolidou nas casas, e foi assim durante três séculos de perseguição contra os cristãos. Além disso, a suspensão dos trabalhos e das escolas poderá proporcionar aos pais um tempo precioso para dialogar com seus filhos, inventar momentos de partilha e brincadeiras que divertem e integram os membros da família.
Experiência de Foucauld
Muitas pessoas dizem que estão com saudades da Missa e sentem necessidade da força da Eucaristia. Em São Gabriel, a porta da catedral permanece aberta e o padre encontra-se lá para acolher quem chega. Outras pessoas me procuram em minha casa para pedir uma benção, para fazer uma confissão.
Algumas também suplicam a Comunhão Eucarística. Lembro do que fez o padre Huvelin, logo após a confissão de Charles de Foucauld: levou-o ao sacrário e deu-lhe a Santa Comunhão.
Quando de Foucauld mudou-se para Tamanrasset, teve que permanecer mais de um ano sem poder celebrar a Eucaristia, porque lá não havia nenhum católico para acompanhá-lo. Provavelmente foi neste período que escreveu:
“a passagem do Evangelho que mais transformou a minha vida foi: ‘aquilo que fizeste ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizeste’, e quando se pensa que foram os mesmos lábios que disseram ‘isto é meu corpo, isso é meu sangue’, somos levados a procurar e amar Jesus nestes pequeninos’”.
Com Blaise Pascal, aconteceu algo semelhante. Incompreendido pela Igreja, por algum tempo foi proibido de participar da Eucaristia. O que fez? Para viver na presença de Jesus, convidou um mendigo para morar com ele.
O Papa Francisco afirma que a Igreja em saída deve ser semelhante a um hospital de campanha. Numa sociedade pluralista e secularizada deve estar aberta e disponível para acolher e ajudar a todos, e não apenas aqueles que têm fé. Oferecer a todos acompanhamento espiritual sem proselitismo, arrogância clerical ou paternalismo. Isso só é possível através do diálogo, sem colocar-se na posição de quem ensina, mas para também aprender com os outros.
De Foucauld, deixando-se conduzir-se pelo Espírito, foi precursor da Igreja que deseja ser um hospital de campanha. Oxalá todos nós, no pós-covid-19, saiamos mais contemplativos, mais fraternos, hospitaleiros e solidários, principalmente com os pobres, que estarão ainda mais empobrecidos e numerosos.
IHU On-Line – Que contribuições o testemunho e a espiritualidade de Charles de Foucauld trarão para a Igreja, pós-covid-19?
Dom Edson Damian – Karl Rahner fez uma constatação que nos atinge a todos: “o cristão do século XXI será místico ou não será cristão”. Charles de Foucauld tem muito a nos ensinar, pois é “um místico em estado puro”. Soube conciliar a profunda contemplação com a radical opção pelos mais pobres e excluídos, com os quais foi viver para amar e servir.
O escritor alemão Ludwig Kaufmann escreveu o livro “Damit wir morgen Christ sein können”. A tradução literal seria “Para que nós também possamos ser cristãos amanhã”. Ediciones Paulinas da Espanha traduziu assim: “Tres Pioneros del Futuro – cristinanismo de mañana”. Quem
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são estes três pioneiros, precursores do amanhã? João XXIII, Oscar Romero e Charles de Foucauld. Escreve páginas admiráveis sobre cada um deles.
Retornar ao Evangelho
A Palavra de Deus e a Eucaristia são as duas fontes inesgotáveis de nossa espiritualidade, e de Foucauld soube integrá-las de forma exemplar em sua vida, numa época em que pouco se recomendava a leitura da Bíblia. Foi neste caminho que o Pe. Huvelin o introduziu, desde o início. “É preciso retornar sempre ao Evangelho. Se não vivermos o Evangelho, Jesus não vive em nós.” Aconselha o amigo Louis Massignon a ler o Evangelho de cada dia:
“é necessário impregnarmos sempre do espírito de Jesus, lendo e relendo, meditando e tornando a meditar continuamente suas palavras e seus exemplos: que sua ação em nossa vida seja como a gota d’água que cai e recai sobre uma pedra sempre no mesmo lugar”.
Pe. Huvelin percebeu que de Foucauld era um homem prático e, antes mesmo de aprofundar intelectualmente sua fé, sentia necessidade de ver e tocar. Por isso o enviou à Terra Santa. Ele já havia escutado de seu confessor:
“Jesus escolheu de tal modo o último lugar que ninguém lhe poderá tirar”. Foi o povoado de Nazaré que lhe causou a impressão mais profunda: “a vida humilde e obscura do divino carpinteiro de Nazaré. ‘Desceu com eles e foi a Nazaré’ (Lc 2,51): por toda sua vida, ele só desceu, desceu ao encarnar-se, desceu ao fazer-se filho de Maria, desceu ao obedecer, desceu ao fazer-se pobre, abandonado, exilado, supliciado, ao colocar-se sempre no último lugar”. E conclui: “Como posso viver na primeira classe se meu Mestre e Senhor viveu em tudo sempre no último lugar?”.
O “grito” evangélico converte-se em eco e reflexo da vida interior transformada pelo espírito de Jesus: “toda nossa vida, por mais silenciosa que seja, tanto a vida de Nazaré, a vida do deserto, como a vida pública, deve ser uma pregação do Evangelho pelo testemunho. Toda nossa pessoa deve respirar Jesus, todos os nossos atos, toda nossa vida deve gritar que somos de Jesus. Todo nosso ser deve ser uma pregação viva, um reflexo de Jesus, que brilhe um ícone dele”.
O Papa Francisco, desde a encíclica programática Evangelii Gaudium, coloca como centro da renovação da Igreja o encontro pessoal com Jesus e com o Evangelho. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” (EG 1). Quem o acompanha na Eucaristia que celebra diariamente na casa Santa Marta, percebe nele um evangelho vivo. Ele foi o protagonista no Documento de Aparecida (2005) que nos envia para sermos discípulos missionários de Jesus, uma Igreja em saída ao encontro das periferias geográficas e existenciais.
Papa Francisco e Carlos de Foucauld
Percebe-se uma profunda sintonia entre o Papa Francisco e de Foucauld. Escutemos o que ele diz: “O Evangelho é a Verdade que não passa de moda, porque é capaz de penetrar onde nada mais pode chegar. A nossa tristeza infinita só se cura com um amor infinito. (…) O verdadeiro missionário, que nunca deixa de ser discípulo sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária.
Se uma pessoa não o descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, perde depressa o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite, faltam-lhe força e paixão. E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não convence ninguém” (EG, 265-266).
O Papa Francisco sempre nos traz a memória de São Francisco de Assis. Por isso, gostaria de sugerir a leitura de um excelente livro escrito por dom Beto Breis, OFM, bispo da Diocese de Juazeiro, intitulado: Francisco de Assis e Charles de Foucauld, enamorados do Deus Humanado (Paulus, 2017).
De Foucauld dedicava várias horas de cada dia para a oração silenciosa e adoração de Jesus na Eucaristia. Para ele, “Rezar é frequentar Jesus” e “a melhor oração é aquela que contém mais amor”. Inspirou-se em Santa Teresa D’Ávila que disse: “A oração é uma relação de amizade, permanecendo muitas vezes a sós, com quem sabemos que nos ama”.
Orientando um dia de espiritualidade durante um Encontro Nacional de Presbíteros, Dom Casaldáliga afirmou:
“O evangelizador que não for capaz de permanecer pelo menos meia hora em silêncio diante do Senhor, neste dia não deveria pregar para ninguém, pois correria o risco de anunciar a si mesmo e não o Reino do Senhor e o Senhor do Reino”.
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Assim vamos percebendo que o êxito da evangelização é obra do Espírito Santo, mas depende, em grande parte, da espiritualidade e da mística de quem evangeliza.
O último lugar
“A busca do último lugar”, que de Foucauld testemunhou de forma existencial e geográfica, apresenta-se hoje como um antídoto à autorreferencialidade da Igreja que se expressa no clericalismo, no carreirismo, no autoritarismo e no mundanismo de seus ministros. Ministério origina-se de “minus-stare” que significa “estar abaixo”, para lavar os pés, servir a todos como fez nosso Mestre e Senhor. Charles de Foucauld quis ser pequeno para ser irmão de todos, a começar pelos excluídos e descartados.
Desafio de olhar pelos pobres
A pandemia está escancarando a assustadora e cruel desigualdade social de nosso país, onde perdura a estrutura nefasta da casa grande e a senzala. Com o coronavírus e a crise econômica que já se faz sentir, os pobres ficarão ainda mais empobrecidos. A credibilidade da Igreja será testada pelo modo como soubermos radicalizar a opção pelos pobres. Fechar os olhos diante do próximo nos torna cegos diante de Deus. Diz o Papa Francisco: “Quando São Paulo foi ter com os Apóstolos em Jerusalém, para discernir ‘se estava a correr ou tinha corrido em vão’ (Gl 2,2), o critério-chave de autenticidade que lhe indicaram foi que não se esquecesse dos pobres (…) A própria beleza do Evangelho nem sempre a conseguimos manifestar adequadamente, mas há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora” (EG 195). Esta opção está no DNA de nossa Igreja desde as suas origens.
As comunidades cristãs missionárias deverão testemunhar Jesus Cristo com parresia, “gritar o Evangelho com a vida”. Os cristãos leigos e leigas deverão ser protagonistas, engajar-se com as instituições e movimentos para defender os direitos dos pobres, lutar pela justiça social e cuidar da Casa Comum.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Dom Edson Damian – Por fim, gostaria de convidá-lo para rezar a Oração do Abandono. Ela ocupa lugar central na espiritualidade foucauldiana. Expressa o grito de confiança, de esperança e de serenidade que acompanhou de Foucauld, sempre certo de que Deus “é o Senhor do impossível”.
A Oração do Abandono é um prolongamento da última oração de Jesus, quando, do alto da Cruz, entrega sua vida ao Pai: “Meu Pai, em vossas mãos eu entrego meu espírito” (Lc 26,46).
A importância atribuída a esta oração aparece na maneira como ele mesmo a introduz: “é a última oração de nosso Mestre, de nosso Bem Amado Irmão e Senhor Jesus. Possa ela ser também a nossa oração e que não seja rezada apenas no último instante, mas em todos os momentos de nossa vida”.
Partilho também um canto que é considerado o hino da fraternidade.
Oração do abandono
Meu Pai,
a vós me abandono,
fazei de mim o que quiserdes:
O que de mim fizerdes
eu vos agradeço.
Estou pronto para tudo,
aceito tudo,
contanto que a vossa vontade
se faça em mim
e em todas as vossas criaturas.
Não quero outra coisa, meu Deus.
Entrego minha vida
em vossas mãos.
Eu vo-la dou, meu Deus,
com todo amor do meu coração
porque eu vos amo.
E porque é para mim
uma necessidade de amor
dar-me, entregar-me
em vossas mãos, sem medida
com infinita confiança
porque sois meu Pai.
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Hino da fraternidade

  1. Jesus, eu irei te cantar pela vida. Jesus, eu irei te anunciar para sempre aos irmãos. Pois só tu és a paz e o amor dos cristãos. Jesus, eu irei te cantar pela vida.
  2. Jesus, eu irei te louvar pela vida. Jesus, eu quisera meu amor fosse o eco de meu Deus. E vivendo na terra e crescendo o teu Reino. Jesus, eu irei te louvar pela vida.
  3. Jesus, eu irei te amar pela vida. Jesus, te acolhendo no pobre e no irmão sofredor, em defesa da vida e direitos humanos. Jesus, eu irei te amar pela vida.
  4. Jesus, eu irei te servir pela vida. Jesus, dando a ti meu viver, meu sofrer, meu amor pela luta em favor da Justiça e da Paz. Jesus, eu irei te servir pela vida.
  5. Jesus, eu irei te anunciar pela vida. Jesus, a “gritar o Evangelho com a vida” aos irmãos, prá que sejam discípulos e missionários. Jesus, eu irei te anunciar pela vida
  6. Jesus eu irei te levar pela vida. Jesus, a viver teu Mistério Pascal que é Amor. Pois, teu Corpo e teu Sangue por mim entregaste. Jesus, eu irei te levar pela vida.
    *
    16º- A CANONIZAÇÃO
    SÃO CARLOS DE FOUCAULD
    Religiondigital.org
    Francisco aprova o milagre atribuído à intercessão do mártir
    O Papa canonizará Charles de Foucauld, o “pai do deserto”
    27.05.202 Jesús Bastante
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    Charles de Foucauld será um santo … se alguém pensasse que ele não era mais. O mestre do deserto, de pregar com a própria vida (até que ele o deu, em Tamanrasset, em 1916), cujos críticos afirmaram que ele nunca converteu ninguém, será canonizado depois que o Papa aprovar o milagre atribuído à sua intercessão.
    Apenas a data do milagre está faltando.
    O «irmão universal» nasceu em Estrasburgo em 15 de setembro de 1858. Órfão aos 6 anos, cresceu com sua irmã Maria, sob os cuidados de seu avô, orientando-se para uma carreira militar.
    Adolescente, perca a fé. Conhecido por seu gosto pela vida fácil, ele revela, apesar de uma vontade forte e constante de dificuldades. Ele empreende uma exploração perigosa de Marrocos (1883-1884). O testemunho de fé dos muçulmanos suscita nele uma pergunta sobre Deus: «Meu Deus, se você existir, faça-me conhecê-lo».
    Retornando à França, ele fica muito emocionado com a recepção discreta e amorosa de sua família profundamente cristã, e uma busca começa. Guiado por um padre, Padre Huvelin, ele conhece Deus em outubro de 1886. Ele tem 28 anos.
    «Assim que entendi que havia um Deus, entendi que não podia fazer nada além de viver apenas por Ele»
    Carlos de Foucauld (1858-1916)
    CANONIZAÇÃO DO PADRE CARLOS DE FOUCAULD
    O arcebispo de Tanger, diante a canonização do «Irmão universal»
    Religiondigital.org
    Cristóbal López:
    «Carlos de Foucauld nos ensinou a trabalhar pela fraternidade universal.
    Carlos de Foucauld «Após sua» conversão «(não uma mudança de religião, mas um retorno à sua primeira fé cristã), não conseguiu voltar ao Marrocos, mas se estabeleceu no deserto, na Argélia, onde finalmente morreu assassinado»
    «Saint Charles de Foucauld é uma bênção para a Igreja em geral, mas para nossas igrejas no norte da África representa, além de uma bênção, um consolo em dificuldades, um reforço de nosso estilo de vida de fé e um incentivo para seguir adiante com confiança » 05.28.2020 Cardeal Cristóbal López Romero
    A manhã de 27 de maio me trouxe, da Religião digital -Notícias, essas grandes «boas novas»: Carlos de Foucauld será canonizado. Com efeito, o papa aprovou o milagre obrigatório para proclamá-lo santo e propor-lhe veneração e imitação da Igreja universal.
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    Para a Igreja de Marrocos, essa notícia é de particular importância, pois foi durante sua visita a este país que Foucauld sentiu algo se mexendo dentro dele, no fundo. Agnóstico e descrente, ele se deixou tocar pelo exemplo e piedade dos muçulmanos; Ao vê-los orar, ele entendeu que a vida que levava não era o que deveria ter sido, e que Deus estava esperando por ele em todos os cantos das estradas pelas quais percorria toda a extensão e largura do país.
    Charles de Foucauld «Após sua» conversão «(não uma mudança de religião, mas um retorno à sua primeira fé cristã), Carlos não conseguiu voltar ao Marrocos, mas se estabeleceu no deserto, na Argélia, onde finalmente morreu assassinado»
    «São Charles de Foucauld é uma bênção para a Igreja em geral, mas para nossas igrejas no norte da África representa, além de uma bênção, um consolo em dificuldades, um reforço de nosso estilo de vida de fé e um incentivo para seguir adiante com confiança » 05.28.2020 Cardeal Cristóbal López Romero.
    Após sua «conversão» (não uma mudança de religião, mas um retorno à sua primeira fé cristã), Carlos não pôde voltar ao Marrocos, mas se estabeleceu no deserto, na Argélia, onde foi finalmente morto.
    Sua experiência espiritual, seu carisma, seu amor pela terra e pelo povo do norte da África incendiaram essas igrejas, nas quais seus seguidores espirituais (espontâneos ou institucionais) sempre quiseram estar presentes. Com Carlos de Foucauld, aprendemos: – trabalhar pela fraternidade universal (ele se considerava um irmão universal); – valorizar o testemunho pessoal do Evangelho vivido no amor acima de qualquer atividade evangelizadora; – aceitar com alegria ser pequeno, pobre e sem outros recursos além daqueles necessários para sobreviver, compartilhados com aqueles que vivem juntos; – ser poucos, viver em minoria, ser «menores», na linha espiritual franciscana; – encontrar Cristo na adoração eucarística e no encontro fraterno; – amar o silêncio e ouvi-lo mais do que barulho e conversas.
    Na vida, Carlos de Foucauld não conseguiu organizar nenhum movimento, associação ou grupo estável… Mas seu sangue era semente que, impulsionada pelo vento do Espírito, brotou em diferentes lugares e de maneiras muito diferentes, a ponto de ter originado a uma família e a um movimento espiritual em que algumas congregações religiosas, associações e movimentos cristãos bebem a água cristalina do evangelho mais puro.
    São Carlos de Foucauld é uma bênção para a Igreja em geral, mas para nossas igrejas no norte da África representa, além de ser uma bênção, um consolo em dificuldades, um reforço de nosso estilo de vida de fé e um incentivo para seguir adiante com confiança. Foucauld, irmão universal, rogai por nós! + Cristóbal, cardeal López Romero, sdb Arcebispo de Rabat
    Administrador Apostólico de Tânger
    Depoimentos: Religión digital 07.06.2020
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    Carlos de Foucauld:
    Sempre disposto a fazer a vontade de Deus. «Há algo mais doce no mundo do que fazer a vontade daquele que é amado»? Sonhar para amanhã um mundo que é finalmente e eternamente «Jesus», seu Modelo Único, praticando o apostolado da bondade. A novidade de sua mensagem é viver Nazaré, vida humilde e pobre.
    As Fraternidades, onde vivemos seu carisma, geralmente querem fazer o máximo possível, a imitação de Nazaré na humildade, pobreza e «Lugar Derniére» (último lugar); buscando o equilíbrio entre Contemplação e Ação. As boas-vindas entre nossas Fraternidades em união como ramos da mesma árvore.
    Queremos continuar o desejo de Carlos de Foucauld de ser uma Fraternidade Universal. Estamos comprometidos com nossa sociedade, cada uma onde foi sua vez de viver, em compromisso com os mais desfavorecidos que são nossos irmãos e irmãs.
    Essa grande satisfação e alegria que nossa canonização nos dá nos ajudará e nos dará força para continuar vivendo nosso carisma em profundidade. Agradecemos a Deus por um trabalho tão grande.
    (Paquita: Da Fraternidade ) Religión digital 07.06.2020
    A canonização do irmão Carlos de Foucauld é um evento de vida para a Igreja e para o mundo porque está na linha do Papa Francisco, que nas palavras do Bispo Dom Pedro Casaldáliga, quer «uma Igreja vestida no Evangelho e estrada com sandálias».
    Foucauld pode ajudar a Igreja hoje a «retornar a Nazaré»: Uma Igreja pobre, simples, fraterna, acolhedora, em imitação da sagrada Família de Nazaré.
    A Comunidade Ecumênica Horeb: Carlos de F oucauld é uma união espiritual de pessoas que constituem um «mosteiro invisível na comunhão dos santos». Esta comunidade é composta por pessoas que, sob os Conselhos Evangélicos ou Diretor de Carlos de Foucauld, se comprometem a pedir todos os dias a união dos cristãos e que as Igrejas, Religiões e Nações se permitam ser lideradas pelo Epíritu de Jesus, o Cristo.
    A Comunidade Ecumênica Carlos de Foucauld foi fundada, como um local físico de acolhimento e oração em 1978, por José Luis Vázquez Borau, na Vila de San Francisco de Huercal-Overa (Almería – Espanha), com a bênção do bispo do então Dom Manuel Casares Hervás, e funcionou até 1982, que os irmãos e irmãs tiveram que dispersar por diversas circunstâncias. Mas em Pentecostes no 2006, a Comunidade Ecumênica Horeb: Carlos de Foucauld recebeu um novo impulso, estabelecendo fraternidades Horeb em todo o mundo.
    Foi reconhecida como uma associação privada de fiéis no dia 19 de junho de 2014, pelo Cardeal de Barcelona Dom Luis Martinez Sistach e no 20 de junho de 2018 o cardeal Juan José Omeya Omella, arcebispo de Barcelona, assinou o decreto de associação final dos fiéis.
    No 2020, a CEHCF foi recebida pela Associação da Família Foucauld Espanha. Há agora uma presença da CEHCF em quatorze países ao redor do mundo.
    (José Luis Vazquez Borau da Comunidade Ecuménica Horeb: Carlos de Foucauld).

Como foi ou caminho de Charles de Foucauld aos altares?
A CANONIZAÇÃO
José Luis Vàzquez Borau (Religión Digital, 27-05-2020.)
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A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Eis o artigo.
A canonização é o ato mediante o qual a Igreja Católica, tanto em seu rito oriental como no ocidental, declara como santa uma pessoa falecida.
O milagre aprovado pelo Papa, antes pela comissão teológica e previamente por unanimidade pela comissão médica da Causa dos Santos, é a sobrevivência quase sem sequelas de um jovem carpinteiro francês que caiu de um andaime a 15 metros de altura de uma igreja, apesar dos graves ferimentos.
Aconteceu cem anos depois de morrer o beato, em 30 de novembro de 2016, em Saumur (França), na igreja de Saint-Louis. Foi preciso se passarem 104 anos depois de seu assassinato em Tamanrasset (Saara argelino), graças ao impulso do papa Francisco.
Passaram-se quinze anos desde sua beatificação em Roma, em 13 de novembro de 2005, quando o papa Bento XVI, falando em francês, deu graças a Deus pelo testemunho do padre de Foucauld dizendo que
“através de sua vida contemplativa, escondida em Nazaré, encontrou a verdade da humanidade de Jesus, convidando-nos a contemplar o mistério da Encarnação. Descobriu que Jesus veio para se unir a nós em nossa humanidade, convidando-nos à fraternidade universal, vivendo mais tarde no Saara, dando-nos exemplo do amor a Cristo”. E seguiu dizendo: “Como padre, pôs a Eucaristia e o Evangelho no centro de sua existência”.
Como foi esse processo?
Em 01 de dezembro de 1916, Foucauld estava só em seu eremitério; em torno de quarenta rebeldes chegaram silenciosamente; alguém que o conhecia anunciou falsamente que eram os correios.
Foucauld abriu a porta, pegaram-no e jogaram-no ao chão, colocando-o de joelhos na porta do eremitério; de joelhos e calado; mandaram-no colocar os braços para trás e ataram seus punhos; interrogaram-no, e ele disse em árabe: “Vou morrer”.
Confiaram-no ao cuidado de um rapaz de quinze anos e saquearam o eremitério. Alguém grita: estão vindo dois soldados. Disparam. O rapaz fica nervoso e dispara em Foucauld; a bala entra por trás da orelha e sai pelo olho esquerdo. O drama dura um quarto de hora.
Foucauld queria ser enterrado onde morresse, porém os Padres Brancos trasladam seus restos aos pés da Basílica em El Golea (Argélia). Somente o coração de Foucauld fica em Tamanrasset.
O processo começou em 1925, em dez dioceses, Argel, Paris, Viviers, Périgueux, etc., onde houve testemunhos de sua vida, no que se chama o “processo requisitório”. Enquanto se reunia, classificava e decifrava tudo o que irmão Charles escreveu.
Dez anos, entre 1930 e 1940, demoraram as Irmãs Brancas de Argel para datilografar todo o material, já que de trabalhos científicos havia 539 laudas; escritos espirituais, 7.624; de correspondência, 6.417 laudas. No total, 14.580 laudas. Todo esse material, recolhido em três volumes, junto com as Atas dos diferentes Procedimentos, chegou a Roma em 1946.
Dez anos mais tarde, por causa da guerra da Argélia, o papa Pio XII pediu para parar o processo, que não se reabriu até março de 1967.
O Concílio Vaticano II, que foi inaugurado pelo papa João XXIII, em 11 de outubro de 1962, deu um novo alento a essa causa, pois sem mencioná-lo diretamente, Charles de Foucauld esteve em primeiro plano. Apesar de seu nome não sair em nenhum documento, muitos bispos, as comunidades de base que surgiam por todas as partes e o movimento “Por uma Igreja servidora e pobre” liderada pelo padre Paul Gauthier em Nazaré, fizeram com que o processo avançasse. Foi nesse contexto que o padre Congar disse aos padres conciliares:
“Teresa de Lisieux e Charles de Foucauld são dois faróis que Deus colocou em nosso caminho”.
Foi no ano de 1979 quando a Congregação para a Causa dos Santos pediu uma positio documentada, isto é, uma relação, com documentação de apoio, sobre as questões mais delicadas.
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Qual é a proposta de Foucauld hoje?
Foucauld não propôs ao final de sua vida uma ordem religiosa, mas sim “um movimento evangelizador universal”, “que será uma revolução na Igreja enquanto comunidade evangélica e evangelizadora, uma comunidade nômade com seus membros dispersos, mas que não atuam de maneira dispersa:
estão reunidos na Comunhão dos Santos”.
Hoje Foucauld tem uma grande família de um homem que morreu solitário!
Em 1955, a Association Famille Spirituelle Charles de Foucauld contava com oito grupos ou fraternidades (irmãos, irmãs, fraternidade secular, sacerdotes, etc.), porém hoje são mais de vinte grupos ou movimentos associados em diversos países, com mais de 13 mil membros. E a família dos e das que encontram em Charles de Foucauld uma inspiração para suas vidas.
Atuando de que maneira?
Pelo testemunho pessoal e comunitário, e praticando o apostolado da bondade. Em um mundo cheio de palavras, frequentemente enganosas, temos necessidade de testemunhos de vida autênticos.
Temos necessidade de silêncio adorador e compromisso pela justiça. A novidade da mensagem de Foucauld é conjugar bem estas três dimensões que Jesus viveu:
Nazaré, Deserto e Palestina, porém sempre ancorado em Nazaré, vida humilde e pobre, utilizando sempre meios pobres.
Em uma palavra
Se tivéssemos que dizer em poucas palavras a relevância de Foucauld, diríamos que foi um homem que seguindo seu querido Senhor Jesus, se uniu no coração da Missão da Igreja, soube captar a paciência de Deus na realização dos seus planos e, em meio a um mundo que não conhecia Jesus, quis ser um Evangelho vivo, encarnando plenamente em seu ambiente, interessando-se pelo progresso humano e praticando o apostolado da bondade.
17º- A FAMÍLIA ESPIRITUAL DE CARLOS DE FOUCAULD
O Espírito e o Estilo da Família Espiritual de Charles de Foucauld https://www.charlesdefoucauld.org/es/presentation.php Se o grão de trigo não morrer (João 12,24)
Assim resumiu Antônio Furioli o espírito e o estilo da Família Espiritual de Charles de Foucauld:
“Os muitos herdeiros espirituais de Charles de Foucauld o seu exemplo continua a escolher a residir nesses lugares anônimos e sem prestígio, onde ninguém sonharia em ir viver, ou seja, nas sombras e na futilidade aparente de sua presença.
Nestes atípico contemplativa é a recusa de se destacar sobre o mundo em que vivem e de sua sociedade; há neles uma profunda confiança no homem e em seu mundo. De acordo com eles, não é o mundo que pertence à Igreja, mas é a Igreja que pertence ao mundo. Eles representam aqueles poucos seres humanos através dos quais, hoje, muitas pessoas nascidas e criadas em tradições bastante estranho ao cristianismo, têm a oportunidade de entrar em contato com Jesus.
O aspecto novo e importante do seu perfil de baixo testemunho na Igreja, Ele consiste precisamente na gratuidade de uma verdadeira presença amiga, que não se importa em tudo para resultados imediatos.
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A humanidade doce de sua amizade discreta, que levanta outra confiança e abertura, como uma das mais valiosas nas relações interpessoais, não tem nenhuma reivindicação ou sucção e pensar em Deus, para despertar o desejo, o desejo por ele.
“Em cada pessoa, mesmo que em um nível subconsciente, há o desejo de entrar em contato com o Transcendente por muitos nomes, muitas faces e muitos lugares; aquele que tem os nomes de todos os lugares de moradia sem nome de segregação racial e a marginalização social, que tem a face de toda a sem rosto que estão entre nós: arrancados de seu mundo e o nosso são descartados dos mais pobres os pobres, os realmente pobres de Deus”.
(Antônio Furioli, Charles de Foucauld, irmão universal, na unidade e carisma, 1-. 2007).
FAMÍLIA INTERNACIONAL
1.Sociedadeda União, a refundada em 1955 é uma “associação de leigos”. 2.Charles de Foucauld Group (Groupe Charles de Foucauld),fundada em 1923 é uma associação de leigos. 3.Pequenas Irmãs do Sagrado Coração (Petites Soeurs du Sacré Coeur),fundada em 1933é um instituto religioso. 4. Pequenos Irmãos de Jesus(Petits Frères de Jesus),fundada em 1933, é um instituto religioso. 5. Irmãzinhas de Jesus(Petites Soeurs de Jésus),fundada em 1939 é um instituto religioso 6. Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas (Fraternidade Sacerdotal),fundada em 1951é uma associação de sacerdotes. 7 .Fraternidade Jesus Caritas (Jesus Caritas Fraternidade),fundada em 1952é um instituto secular feminino. 8. Fraternidade Secular Charles de Foucauld (Séculière Fraternité Charles de Foucauld),fundada em 1952é uma associação de leigos. 9. Irmãozinhos do Evangelho (Petits Frères de l’Evangile),fundada em 1956e associado em 1968, são um instituto religioso. 10. Irmãzinhas do Evangelho (Petites Soeurs de l’Evangile),fundada em 1963e associadas em 1971, são um instituto religioso. 11. Pequenas Irmãs de Nazaré (Petites Soeurs de Nazareth),fundada em 1966e associadas em 1974, são um instituto religioso. 12. Comunidade de Jesus (Comunitat de Jesús), fundada em 1968e associado em 1980 é uma associação de leigos. 13. Pequenos Irmãos de Jesus Caritas, fundada em 1969e associadas em 1984são um instituto religioso. 14. Pequenos Irmãos de Encarnação (Petits Frères de l’Encarnação),fundada em 1976e associado em 1985, são um instituto religioso. 15. Pequenos Irmãos da Cruz (Petits Frères de la Croix),fundada em 1980 e associadas em 1986, são um instituto religioso (monges). 16. Pequenas Irmãs do Coração de Jesus (Petites Soeurs du Coeur de Jésus),fundada em 1977e associado em 1987, são um instituto religioso. 17. Fraternidade de Charles de Foucauld (Fraternité Charles de Foucauld),associada em 1992, é uma associação de leigos. 18. Irmãzinhas da Encarnação (Petites Soeurs de l’Encarnação),fundada em 1985e associadas em 1994, são um instituto religioso. 19. Missionários de Jesus, o Servo (Missionnaires de Jésus-Serviteur),fundada no início dos anos 80, foram associados em 1997. É um instituto secular. 20. Discípulos do Evangelho, fundada em 1973e associado em 2007, é um instituto religioso. 21.Comunidade Ecumênica Horeb: Carlos de Foucauld. A comunidade Ecumênica Carlos de Foucauld teve seu início na cidadezinha São Francisco (Huercal-Hovera), Almeria – Espanha, no ano 1978, e no dia 19 de junho de 2014 foi constituída pelo Cardeal de Barcelona (Catalunha), Luiz Martinez Sistach, como associação privada de fiéis. Foi aceita na Família Carlos de Foucauld e associada em março de 2020. https://horebfoucauldblog.wordpress.com/author/horebbrasilblog/ 22.Amigos do Deserto. Fundador: Padre Pablo d”Ors.
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FAMÍLIA ESPIRITUAL DE CARLOS DE FOUCAULD NO BRASIL 1. Irmãzinhas de Jesus Responsável: Irmãzinha Dorinha de Jesus Rua A1 N 50. Casa 4 – Betânia 30.590-280 – Belo Horizonte – MG Fone (31) 33749993 E-mail: dolocas@yahoo.com.br 2. Fraternidade Sacerdotal JesusCáritas Responsável: Pe. Gildo Nogueira Gomes Praça Getúlio Vargas, 119 27400-000 – Quatis – RJ Tel: (24) 3353-2366 e (24) 99917-2887 (vivo) E-mail: pegildo@bol.com.br

  1. Instituto Secular Responsável: Maria Concilda Marques Rua Nogueira Acioli, 1050 Apartamento 703 – Centro 60110-140 Fortaleza – RJ Fone: (85) 322 4074 e (85) 9156 7669 (claro) E-mail: concildamarques@uol.com.br
  2. Fraternidade Secular Carlos de Foucauld Responsável: Estêvão Rodrigues Sanches Rua Leopoldo Machado, 63 03611-020 – São Paulo – SP Fone: (11) 2641-0258 e (11) 99243 3854 (claro) E-mail: estevaorsanches@yahoo.com.br e boletimfrater@gmail.com
  3. Sodalício Carlos de Foucauld Responsável: Margareth Malfiet Casa Paroquial 62220-000 Poranga – CE E-mail: gretaporanga@yahoo.com.br
  4. Comunidade de Damasco Responsável: Pe. João Rocha 55.42.999-3662 (WhatsApp) Tel. 55.42.36242153 Caixa Postal, 341 85100-970 Guarapuava – PR E-mail: divinaternura@almix.com.br
  5. Irmãozinhos de Jesus Responsável: Irmãozinho Guido Av. Fortaleza, 345 – Bairro Valentina Figueiredo 58069-170 João Pessoa – PB Fone: (83) 8812 5295 (oi)
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  6. Irmãozinhos da Visitação de Charles de Foucauld Responsável. Ir. Marcelo de Oliveira Rua Barreira do Norte, 56 – Alto Santana. Cx. P. 05 Email: marcelocorima@yahoo.com.br 76.600.00 – Goiás – GO Tel. 62 9967 1009 – 3371 1336 – 3371 1570
  7. Fraternidade Missionária Carlos de Foucauld Responsável. Antônio Silva (Toninho) Caixa Postal 184 01.059.970 – Ribeirão Pires – SP Tel. 011 2161-5747
    18º- VIVER A ESPIRITUALIDADE DO IRMÃO UNIVERSAL EM UMA FRATERNIDADE, HOJE Observe a Família Carlos de Foucauld. Aqui duas propostas. A Primeira:
    1- Amigos do Deserto. Fundador Pablo d’Ors.
    Um grupo de Amigos do deserto com Pablo d’Ors
    Paulo d’Ors (Madri, 1968-) presbítero e escritor católico, nomeado pelo papa Francisco Conselheiro de cultura do Vaticano. Funda em 2014 a Associação “Amigos do deserto”, visando ao conhecimento e a prática da meditação. Entre seus livros estão: Trilogia do silêncio (2009). “O esquecimento de si” (2013). “O amigo do deserto” (2009). “Biografia do silêncio” (2012).)
    https://www.charlesdefoucauld.org/es/presentation.php
    AMIGOS DEL DESIERTO SOCIACIÓN PRIVADA DE FIELES AMIGOS DEL DESIERTO; NIF: G87720645; Domicilio social: Calle Mirto nº 3, 3º – MADRID (Madrid); Dirección de correo electrónico: fernandoh.tes@amigosdeldesierto.org
    Pablo d’Ors: a experiência dos padres do deserto, esses milhares de cristãos que nos primeiros séculos buscavam Deus na solidão e no silêncio, “é a corrente espiritual mais importante, não só do cristianismo, mas, da história da humanidade”. Esta maneira de se relacionar com Deus – acrescenta – tem plena vigência na atualidade e a existência da associação Amigos do Deserto é prova disso. “Não foi uma ideia que eu tivesse, mas um presente que me foi dado.
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    Em 2013, comecei a receber centenas de correspondências de pessoas que me pediam que lhes ensinasse a meditar. A maioria me conhecia por meu livro ‘Biografia do silêncio’, e muitos estavam afastados da Igreja. Com alguns amigos, decidimos organizar um retiro”.
    O interesse foi tal que, “antes que se realizasse, já havia outros dois previstos”. Desde então, umas 1.000 pessoas da Espanha e de outros países passaram por seu retiro de iniciação à meditação.
    Também organizam retiros para aprofundar na oração do coração mediante a espiritualidade de Charles de Foucauld, “nosso patrono”, e a teologia do ícone da Sagrada Família, de Rublev. Parte daqueles que participam destes retiros passam, depois, a fazer parte de algum dos 16 grupos que se reúnem semanal ou quinzenalmente. Além disso, a associação organiza oficinas e turmas de exercícios em um convento de carmelitas descalços em Las Batuecas. Madri.
    2ª -PROPOSTA:
    FAZER-SE IRMÃO OU IRMÃ DA
    COMUNIDADE ECUMÊNICA HOREB: CARLOS DE FOUCAULD
    A CEHCF foi fundada pelo filósofo, teólogo, escritor e pesquisador da história das religiões José Luis Vázquez Borau. Hoje é Coordenador e animador com uma equipe da comunidade. A sede fica em Barcelona Espanha.
    A CEHCF para realizar a sua missão está organizada assim:
    A) FRATERNIDAD HOREB CENTRAL
  8. Responsável Geral: José Luis Vázquez Borau
    J. L. Vázquez Borau
    José Luis Vázquez Borau. WhatsApp +34 645824470
    https://foucauldblog.wordpress.com
    http://horebfoucauld.wordpress.com
    https://www.religiondigital.org/cafedialogo/
    amazon.com/author/jlvazquez.borau
  9. Assistente Geral: Álvaro Ricas Pérez
  10. Secretário Geral: Valentí Vázquez López
    B) CONSELHO DE COMUNIDADE:
    Formado pelos Responsáveis regionais de:
    Argentina: Fernando Ruben Ocampo
    Brasil: Germán Calderón (WhatsApp 55.42. 999421029; cacger@hotmail.com)
    Cuba: Carlos Ruiz
    Espanha: Francisco Martínez Martínez. Magreb: José Luis Nava
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    ORAÇÃO DO HOREB
    Senhor! Ajuda-me a te encontrar no mais profundo do meu ser.
    Que compreenda, Senhor, tua promessa, o projeto que desde sempre tens pensado para mim, no teu entranhável amor para comigo e em favor dos meus irmãos.
    Que me deixe levar por teu Espírito na realização do teu plano, não só nos momentos de alegria como do sofrimento que isso possa provocar.
    Dá-me a graça de poder viver tudo isso em uma comunidade que viva já agora a felicidade de sentir-se salvada por ti; que a comunique ao mundo inteiro e prepare com seu esforço, o Reino de justiça, de amor e paz que Tu nos prometestes. Amém.
    PROCESSO PARA INGRESSAR NESTA COMUNIDADE
    3º- REGRA DE VIDA
    Monte Horeb ou Sinai (Ex 19,1; 17,6; Num 1,1; Dt 33,2; Sal 68,9; 1 Rs 19,8)
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    1º. COMUNIDADE ECUMÊNICA HOREB CARLOS DE FOUCAULD
    HOREB. A palavra Horeb ou Sinai, (Ex 17,6; 1 Reis 19,8) sugere o conceito “deserto”, lugar da prova e da aliança de Deus e seu povo: lugar onde se descobre a própria vocação e se recebe o próprio mandato (Êx 19,1).
    A Comunidade Ecumênica Horeb – Carlos de Foucauld é uma associação privada de fiéis, constituída em conformidade com o Direito Canônico da Igreja Católica (Arts. 298 – 299) e, aprovada Ad experimentum pelo Cardeal de Barcelona (Catalunha, Espanha) Luis Martínez Sistach no dia 19 de junho de 2014, como associação privada de fiéis.
    Felizmente, no dia 20 de junho de 2018, foi aprovada e assinado o Decreto da Constituição definitiva de Associação de fiéis “Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld” pelo Cardeal Juan José Omella Omella, arcebispo de Barcelona.
    E finalmente, em março de 2020, a CEHCF foi aceita e recebida na Associação Internacional da Família Carlos de Foucauld. Esta associação foi fundada em Beni-Abbés (Argélia) em 1955 pelo Padre Carlos de Foucauld.
    Os membros da CEHCF conformam uma rede de pessoas dispersas, nos mais diversos lugares e ambientes, mas unidas na comunhão dos santos que tentam seguir a proposta do Irmão Carlos de Foucauld: Viver o Evangelho e suas consequências, no silêncio de Nazaré, no deserto interior, em uma sociedade globalizada, técnica, em mudança permanente e na busca de felicidade completa.
    2º. NAZARÉ
    Nazaré, lugar esquecido e silencioso onde Deus, por amor se fez um de nós para nos levar à comunhão trinitária. Aqui Jesus cresceu em humanidade e sabedoria e tanto Deus como as pessoas gostavam cada vez mais dele (Lc 2,52).
    Em Nazaré, o Irmão Carlos de Foucauld percebeu o amor misericordioso e incompreensível de Deus para com cada uma das pessoas e sentiu a força e a necessidade de apresentar este amor mediante a amizade sadia, criativa e alegre a todas e a cada uma das criaturas do planeta. Logo, entusiasmados por este amor, pregar o Evangelho desde os telhados da nossa realidade com o testemunho silencioso da vida e no lugar onde a vida acontece (a família, o trabalho, a escola, a rua, na vida cidadã, na comunidade eclesial, na política, nas organizações pela paz e a convivência pacífica e nas lutas pela implantação da democracia e os direitos humanos).
    A Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld está comprometida pela unidade dos cristãos através da oração, a procura da verdade no diálogo inter-religioso, no apoio e amizade fraterna através de gestos de bondade e ternura para com seus membros e de toda Criatura.
    3º. NATUREZA DA ASSOCIAÇÃO
    As pessoas que formam a Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld decidem viver o Evangelho de Jesus Cristo na sua integridade, na sua radicalidade, incorporando os valores de Nazaré (trabalho, amizade, ajuda, progresso, compromisso com a justiça, apostolado da bondade e silêncio); e pregando o Evangelho com a própria vida; os membros da CEHCF dão uma especial relevância ao tempo de deserto (oração, acolhida, escuta, estudo, discernimento, luta contra o mal); a intercessão ecumênica e o compromisso com a justiça.
    Sua finalidade é ajudar àquelas pessoas dispersas que se esforçam em viver o caminho indicado pelo Irmão Carlos de Foucauld, viver seu Nazaré, já sejam bispos, presbíteros, religiosos, religiosas ou leigos, para reuni-las em uma mesma vocação, através da qual colocam de manifesto, muito especialmente a sua adesão viva à comunhão dos santos, a intercessão ecumênica, à solidariedade com os mais pobres e o compromisso com a justiça.
    Os irmãos e irmãs, como em um mosteiro invisível, tratam de viver seu Nazaré, seu deserto, seu silêncio, sua contemplação, no lugar onde se encontram e se comunicam entre todos pelos médios atuais de comunicação social ou redes sociais.
    4º. VIDA DOS MEMBROS
    A Comunidade Ecumênica Horeb-Carlos de Foucauld aparece como uma amizade espiritual entre distintas pessoas que pretendem no seguimento evangélico de Jesus de Nazaré, viver de um modo especial, o tempo de “deserto”, de silêncio, no seu Nazaré, de acordo às circunstâncias concretas que a cada pessoa lhe é dado viver. Sua vida está impelida por uma triple missão:
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    A- Oferecer uma ajuda e sustentação espiritual, através da oração de uns para os outros. Além dos canais tradicionais de comunicação, a possibilidade de relacionar-se pela Internet , as redes sociais, instrumentos de informação e comunicação do nosso tempo, que podem servir, também, para difundir diferentes vocações (http://www.horeb-foucauld.webs.com). Também, seguindo o dinamismo comunitário podem acontecer retiros e encontros não institucionalizados.
    B- Orar e trabalhar pela unidade dos cristãos e para que todas as religiões encontrem o verdadeiro caminho que conduz à vida, sendo sal e luz do mundo. E, ao mesmo tempo colocar o manifesto, de uma maneira crítica todos os elementos religiosos “interessados”, desmascarando os sectarismos e fanatismos.
    C- Comprometer-se com a justiça na construção de um mundo mais amoroso, cuidador da criação e feliz para que se instaure no mundo o Reino de Deus: um Reino de Justiça, de Amor e de Paz.
    5º. QUEM PODESER MEMBRODA COMUNIDADE.
    Qualquer pessoa que busque e queira viver esta espiritualidade. A Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld, “Mosteiro invisível” na comunhão dos santos e com uma missão ecumênica, está aberta a todos os que decidem viver esta espiritualidade: leigos e leigas celibatários ou casados, religiosos ou religiosas, eremitas, padres ou bispos.
    Quando em uma diocese existem dois ou mais irmãos/as da CEHCF pode-se constituir uma Fraternidade Horeb diocesana, e realizar atividades pertinentes, dentro do carisma que nos caracteriza, vivendo o Nazaré próprio de cada lugar, o deserto/acolhida e a evangelização seguindo a estrela e ou modelo de Carlos de Foucauld.
    Cada membro no lugar onde mora, que é o seu próprio Nazaré, representa à CEHCF, dando testemunho de vida evangélica, pela bondade, a amizade, trabalhando pela justiça, o ecumenismo e o cuidado da criação.
    O espírito criativo de cada membro, guiado pelo Espírito que animava a N. S. Jesus, lhe levará a realizar gestos criativos e positivos na linha marcada. Onde um membro da CEHCF mora e atua todos os demais membros estão em comunhão com ele. Ali onde cada membro da CEHCF se encontre tentará estabelecer relações de amizade e colaboração com a Família Carlos de Foucauld.
    6º. ESTRUTURA
    A Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld sob a autoridade do bispo responsável, se rege pelos Conselhos Evangélicos e se guia e inspira no Diretório de Carlos de Foucauld e se administra assim:
    A) UMA FRATERNIDAD HOREB CENTRAL formada por três membros:
  11. Responsável Geral: José Luis Vázquez Borau
  12. Assistente Geral: Álvaro Ricas Pérez
  13. Secretário Geral: Valentí Vázquez López
    B) UM CONSELHO DE COMUNIDADE:
    Formado pelos Responsáveis regionais de:
    Argentina: Fernando Ruben Ocampo
    Brasil: Germán Calderón (WhatsApp 55.42. 999421029; cacger@hotmail.com)
    Cuba: Carlos Ruiz
    Espanha: Francisco Martínez Martínez
    Magreb: José Luis Nava
    O responsável geral, cabeça visível da Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld tem a missão de acompanhar o discernimento das vocações que se apresentam e admiti-las na Comunidade, como também estabelecer um elo de unidade por notícias, comunicações, encontros informais, cartas à comunidade e pessoais, etc.
    Estes três irmãos têm a responsabilidade do andamento da Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld no mundo.
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    7º. ADMISSÃO
    A admissão à Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld a realiza o coordenador depois de acompanhar e discernir se a pessoa apresenta os sinais desta vocação: a fé na comunhão dos santos; certa aceitação de solidão de vida ativa e criadora; a vontade de viver o Evangelho comprometidos com a justiça, dando a conhecer Jesus “por meio do apostolado da amizade e da bondade” (Carlos de Foucauld); uma vocação ecumênica e uma proximidade com aqueles que não compartem a fé cristã e com aqueles que, no nosso mundo, são particularmente desamparados, abandonados e rejeitados.
    8º. LAÇOS ENTRE OS MEMBROS
    Entre os membros da Comunidade Ecumênica de Horeb Carlos de Foucauld as comunicações e relações de amizade e cordialidade se realizam de uma maneira livre e espontânea. Se bem não existem encontros regulamentados entre os seus membros, isso não impede que o coordenador estabeleça algum encontro informal, ato ecumênico, retiro ou convivência quando as circunstâncias o exijam.
    Os membros da Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld poderão participar plenamente dos retiros, assembleias e encontros que organize a Família Espiritual do irmão Carlos de Foucauld.
    9º. SAÍDA
    Um membro, em qualquer momento, pode deixar, se o desejar, a Comunidade Horeb Carlos de Foucauld. Mas, também, o diretor pode pedir a um membro, de acordo com o bispo, que deixe a associação se manifestar-se publicamente um comportamento muito contrário ao seu compromisso. Mas, antes de partir deverá ter um diálogo com o Senhor Bispo.
    10º. TAXAS
    Na Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld não se estabelece nenhuma contribuição monetária. Quem desejar fazer uma contribuição para as despesas normais do funcionamento da Associação, como viagens, correio, colaboração com a Associação Carlos de Foucauld para empresas comuns dentro do nosso carisma, ajuda discreta a algum membro da associação necessitado, etc. pode optar por fazer um envio postal ao coordenador, que a utilizará para estes objetivos. Em caso da dissolução da Associação Horeb Carlos de Foucauld o bispo entregará os recursos à Associação Carlos de Foucauld.
    11º. COMPROMISSO
    O compromisso com a Comunidade Horeb Carlos de Foucauld se realiza pela primeira vez no dia escolhido pela pessoa que vai fazê-lo de um modo completamente privado e se renova conjuntamente, cada ano, todos os irmãos e irmãs, na noite de Páscoa, junto com a renovação do compromisso batismal. É uma maneira de viver ao uníssono e intensamente este compromisso de todos os membros da Comunidade Horeb Carlos de Foucauld.
    12º. CARÁTER DO COMPROMISSO
    O compromisso com a Comunidade Horeb Carlos de Foucauld é pessoal e discreto. Todos os membros da Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld poderão saber, se requerido, quem é membro da associação, de uma maneira discreta e o coordenador poderá facilitar a relação entre os membros, embora, não existe uma lista pública deles.
    INVOCAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO
    Vem Espírito de Jesus!
    Vem aos que tem um coração de pobre,
    de criança e de poeta!
    Dá-nos tua luz e teu consolo.
    Vem ao mais profundo do nosso ser
    e sara o nosso coração doente.
    Dá-nos força para caminhar
    na tua estrada.
    Caminho estreito de amor e de serviço;
    de luta pela verdade e compromisso
    que nos conduz à vida. Amem
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    13º. FÓRMULA DE COMPROMISSO
    Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
    Hoje: Eu______________ comprometo-me a trabalhar cada dia na busca da verdade e do silêncio interior, a colaborar ativamente para que se instaure no mundo o Reino de Deus: um Reino de Justiça, de Amor e de Paz. Assim como a lutar contra toda espécie de mal e violência.
    Comprometo-me orar cada dia pela unidade dos cristãos e a rogar e trabalhar pelo encontro pacífico e construtivo de todas as pessoas e das diferentes religiões e culturas em um espírito de respeito, colaboração e criatividade.
    Comprometo-me meditar e ir assumindo na minha vida diária os conselhos evangélicos, o Diretório do irmão Carlos de Foucauld, como fonte permanente de inspiração e como chamada à conversão pessoal.
    Comprometo-me apresentar diariamente na minha oração, consciente da minha pobreza e limitações a todos os membros da Comunidade Ecumênica Horeb Carlos de Foucauld e a toda a família espiritual do irmão Carlos.
    Comprometo-me a esforçar-me por ser fermento de paz e de encontro entre as pessoas do me contorno, a pregar o Evangelho de Jesus de Nazaré com a minha própria vida, por meio da amizade e a acolhida, procurando o bem do próximo antes que o sucesso do meu testemunho.
    Para realizar este compromisso peço a intercessão especial do irmão Carlos de Foucauld, do Padre Estanislau Llopart ermitão de Monserrat, do irmão Roger de Taizé, de Teresa de Lisieux e de todos os irmãos e irmãs da comunidade.
    *
    LETANIAS
  • Carlos de Foucauld, irmão universal, ajuda-me a viver segundo teu carisma.
    – INTERCEDEI POR NÓS.
  • Estanislau Llopart ermitão de Monserrat ajuda-me a viver em simplicidade e sabedoria evangélica.
  • Irmão Roger de Taizé ajuda-me a viver a fé gozosa da Ressurreição.
  • Teresa de Lisieux ajuda-me a abandonar-me no amor misericordioso do Pai.
  • Padre René Voillaume, inspirador carismático, intercedei por nós.
  • Padre Peyriguére, curador evangélico, intercedei por nós.
  • Irmão Manu de Grenay, educador evangélico, interceda por nós.
  • Irmã Margaritte de Grenay, estímulo no sofrimento, intercedei por nós.
  • Carlos Carretto, inspirador das fraternidades do deserto, interceda por nós.
  • Manuel Casares, bispo de Armeria e valedor da Comunidade Horeb, intercedei por nós.
  • Louis Massignon, amigo fiel, intercedei por nós.
  • Irmão Madalena mulher de intuição evangélica, intercedei por nós.
  • Francisco de Assis irmão de todas as criaturas, intercedei por nós.
  • José cuidador de Jesus, intercedei por nós.
  • Maria de Nazaré Mãe da Igreja intercedei por nós.
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    AS COMUNICAÇÕES E RELAÇÕES SOCIAIS NO MOSTEIRO INVISÍVEL.
    A Comunidade possui um Boletim de notícias e Comunicações com uma dimensão interna e uma Revista com o nome de HOREB-EKUMENE que qualquer interessado pode acessar.
    https://horebfoucauld.wordpress.com/
    https://horebfoucauldblog.wordpress.com/author/horebbrasilblog/
    Foi beatificado por Bento XVI em 13 de novembro de 2005 na Basílica de São Pedro em Roma.
    Jesus disse: AME-ME COMO VOCÊ É
    Conheço sua miséria, as lutas e tribulações de sua alma, as fraquezas e doenças de seu corpo; Conheço sua covardia, seus pecados e suas fraquezas. Apesar de tudo o que lhe digo: dê-me seu coração, ame-me como você é.
    Amor à Igreja. “Mais unido à Igreja, mais unido ao Espírito Santo que a anima. Quanto mais se ama a Igreja, mais se ama àquele de quem ela é corpo, Nosso Senhor Jesus Cristo” (Foucauld)
    *
    POEMA – BEM-AVENTURADO CHARLES DE FOUCAULD
    Bem-aventurado Charles de Foucauld
    Irmão Carlos de Jesus ou Irmão Universal, com forte inquietação na buscado Absoluto encontra a fonte da Luz e faz da sua ação evangélica a nível mundial.
    Foi oficial militar francês e explorador em Marrocos e sem hesitar em sua intemperança dilapidou sua fortuna com leviandade chegando à dor da descrença.
    Foi monge trapista, padre, missionário e no deserto do Saara um santo eremita.
    Gritar com a própria vida o evangelho de Cristo esse é o nosso viver
    e seu carisma que devemos fazer.
    Seu projeto é fraternidade, caridade com todos e todas as religiões sem fronteiras
    de regiões e sem exclusão e sim unidas no amor e na dignidade da pessoa humana
    porque sua experiência de conversão começou na observação da prática muçulmana.
    Nazaré é sua espiritualidade de cuja mística é de uma abissal fé em
    Jesus Cáritas temos um manancial de solidariedade e unidade.
    Sua vida estava fundamentada em duas mesas: da Palavra e da Eucaristia
    essas eram a sua motivação em prol da sua jornada e profunda alegria. Esse santo alimento
    era causa do seu avivamento que o fortalecia na adoração do Santíssimo Sacramento.
    Buscando o último lugar sem soberba e vaidade para uma vida salutar com Deus no seu altar.
    Deixou um legado como todos os heróis desbravadores, de sua família espiritual têm seguidores no mundo inteiro. Ele nos presenteou com a “Oração de Abandono” para rezar ao Pai com todo amor do coração.
    Pe. Inácio José do Vale
    Irmãozinho da Visitação de Charles de Foucauld
    Fraternidade Sacerdotal Jesus
    Cáritas
    Em Nazaré, na tenda do Mestre, encontrei a Carlos de Foucauld entre os homens e mulheres que seguiram seu caminho no deserto. Bebiam a água fresca do poço da vida que o Filho do Homem oferecia. No pequeno monolito da entrada ao jardim estava escrito:
    “Agora a morada de Deus está entre os seres humanos e as coisas! Deus vai morar com eles e, eles serão o seu povo. O próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem isolamento, nem dor. As coisas velhas já passaram… Agora faço novas todas as coisas”. (Apocalipse 21,3-5) “MARANA THA” (Apocalipse 22,20; 1Cor 16,22).
    “Aumenta o espaço de tua tenda, estenda sem medo os tapetes, estique as cordas,
    finca as estacas, te estenderás em todas as direções”. (Isaías 54,2-4)
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    PEQUENA BIBLIOGRAFIA
    ANNIE DE JESÚS. Carlos de Foucauld. Nos passos de Nazaré. Vargem Grande: Cidade Nova, 2004.
    BREIS, Beto. Francisco de Assis e Carlos de Foucauld. Enamorados do Deus humanado. São Paulo: Paulus, 2017.
    ION ETXEZZARRETA ZUBIZARETA. Hermano Carlos de Foucauld ao encontro dos mais abandonados. São Paulo: Loyola, 1999.
    SCANDIUZZI, Pedro Paulo. A mensagem de Carlos de Foucauld para a vida de um leigo. São Paulo: Loyola, 2015.
    VÁZQUEZ BORAU, José Luis. Carlos de Foucauld e a espiritualidade de Nazaré. São Paulo: Loyola, 205.
    ____. Vivir Nazaret. Un mes con Carlos de Foucauld. Madrid: San Pablo
    WEB
    https://horebfoucauld.wordpress.com/
    https://horebfoucauldblog.wordpress.com/author/horebbrasilblog/
    Lindolfo Euqueres Ferreira Neto. Dissertação de Mestrado: O Sagrado na Dádiva… Charles de Foucauld. Universidade da Paraíba. João Pessoa, 2009.
    Disponível em:
    file:///C:/Users/Usuário/Documents/Livros%20comprar/Carlos%20de%20Foucauld%202020.pdf
    Acesso: 05.06.2020 – 15:00.
    A espiritualidade do Irmão Universal São Carlos de Foucauld, hoje, junto com as outras espiritualidades, na Igreja e no mundo, testemunha o amor misericordioso de Deus, manifestado no mistério do silêncio de Jesus em Nazaré. Com a força da Ressurreição, ela, nos anima a ocupar o último lugar no meio ambiente social, servindo aos mais pobres e abandonados na simplicidade da vida diária e no silêncio do deserto interior. Assim, testemunharemos que somos seus discípulos e missionários (Juan 15,8).
    *
    Organizador: Germán Calderón Calderón da CEHCF
    Fraternidade Horeb: WhatsApp (42) 99942-1029
    Guarapuava, Paraná – Brasil
    Junho 2020